Luciana adorou os posts sobre tropeços nossos de todos os dias. Disse que aprendeu muito com os comentários dos erros comuns, que aparecem sem cerimônia. Fez, então, um pedido. “Diga quais são os sete escorregões mais frequentes e fáceis de evitar. Nada sofisticado. Só os que estão ao alcance de qualquer mortal deixá-los pra lá.” Leitor manda. Vamos a eles. Cadê “meu” óculos?
Existem as palavras óculo e óculos. Óculo significa luneta. Tem uma lente. Binóculo é filhote dele. Bi quer dizer dois. O danadinho tem duas lunetas.
Óculos, empre com s, tem duas lentes — uma para cada olho. Daí o plural obrigatório: óculos mágicos, óculos escuros, meus óculos. Onde estão meus óculos dourados? “Feliz” férias
Féria ou férias? Depende. No singular, a palavra tem a ver com o bolso. (O comerciante recolhe a féria do dia. Ele junta o dinheiro das vendas do dia.) No plural, o vocábulo joga no time da sombra e água fresca. Xô, trabalho! Xô, seriedade! Xô, compromissos! Artigos, adjetivos, pronomes e verbos a ele relacionados vão atrás. Concordam com o boa-vida — sempre no plural: Minhas férias escolares estão cada vez mais curtas. Vão longe as férias que passei no Rio. Felizes férias, amigos. Fiquei fora “de si”
“Eu fiquei fora de si”, diz a criatura desavisada. Bobeia. Os pronomes jogam no time do lé com lé, cré com cré. Primeira pessoa combina com primeira pessoa (eu, mim; nós, nos), segunda pessoa com segunda pessoa (tu, ti; vós, vos), terceira pessoa com terceira pessoa (ele, eles, si). Assim: Eu fiquei fora de mim. Tu ficaste fora de ti. Ele ficou fora de si. Você ficou fora de si. Nós ficamos fora de nós. Eles ficaram fora de si. O pior foi eu ter ficado fora de mim, não acha? Afirmou “de” que
Ninguém sabe a razão. Mas, de repente, não mais que de repente, a conjunção que ganhou companhia indesejável (afirmou “de” que, disse “de” que, julga “de” que e por aí vai). Xô, coisa feia! Vem, criatura leve e fresca: Afirmou que não sabe o porquê da demissão. Disse que fez boa prova. O diretor julga que acabará a exposição em menos de duas horas. “Fazem” dois anos
Olho vivo! Na contagem de tempo, haver é impessoal. Só se flexiona na 3ª pessoa do singular: Faz dois anos que moro aqui. Faz seis meses que fui ao Rio. Trabalhamos no comércio faz anos e anos. Ele “interviu” na briga
Eta tropeço doloroso. A pessoa se esquece de que intervir tem pai pra lá de conhecido. É vir. Ambos se conjugam do mesmo jeitinho: eu vim (intervim), ele vem (intervém), nós vimos (intervimos), eles vêm (intervêm); eu vim (intervim), ele veio (interveio), nós viemos (interviemos), eles vieram (intervieram); vindo (intervindo). Se eu “ver” Maria
Ops! É a cilada do futuro do subjuntivo. Ver, ter e pôr são as vítimas preferenciais do tempo louco pra pegar o bobo na casca do ovo. Não caia na dele. Quer acertar sempre? Siga três passos:
1. Conjugue o verbo no pretérito perfeito: eu vi, ele viu, nós vimos, eles viram; eu tive, ele teve, nós tivemos, eles tiveram; eu pus, ele pôs, nós pusemos, eles puseram 2. Pegue a 3ª pessoa do plural: viram, tiveram, puseram 3. Tire o -am final: vir, tiver, puser
Pronto. Você tem a primeira pessoa do tempo ardiloso. Agora é só prosseguir: se eu vir Maria, se você vir Maria, se nós virmos Maria, se eles virem Maria; se eu tiver saudade, se ele tiver saudade, se nós tivermos saudade, se eles tiverem saudade; se eu puser o dinheiro no banco, se ele puser, se nós pusermos, se eles puserem.