Tira-dúvidas sobre o hífen

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O hífen, vale repetir, é castigo de Deus. Há tantas regras e exceções que ninguém, nem o Senhor, consegue guardá-las na cabeça. A única saída é a consulta. Mas a reforma ortográfica desatualizou todos os dicionários. Só agora, em 18 de março, saiu o Vocabulário ortográfico da língua portuguesa com a nova grafia. Como ele não está disponível em todas as cidades, dúvidas pipocam a torto e a direito. Leitores bateram à porta do blog. São bem-vindos. Vamos às questões.
 
 
  Trabalho no tribunal. Lá, o prefixo co- é muito produtivo. Juízes, advogados, assessores usam-no a torto e a direito. Sei que a reforma ortográfica mudou as regras de emprego de criatura tão pequena mas tão batalhadora. Como me sair bem com ela? Elenice Dias, Brasília
 
 
Dizem que a reforma veio pra dificultar, não pra facilitar. Há um pouco de maldade no comentário. Há, também, um fundo de verdade. As tantas exceções criam nós nos miolos dos pobres mortais. Mas o co- não participa da maldade. Ele tirou as pedras do caminho. Nunca, nunca mesmo, pede o tracinho. Às vezes, pra manter a pronúncia da palavra primitiva, dobra o r ou o s: coedição, coautor, coerdeiro, comorador, corresponsável, corréu, cossistêmico.
 
 
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Tenho montanhas de dúvidas sobre as novidades impostas pela reforma. Há dicionários atualizados para consulta?
Claudenyse Lacerda, Brasília
 
 
O Vocabulário ortográfico da língua portuguesa (Volp) tem a palavra final sobre o assunto. A obra acaba de ser lançada. Ainda não está disponível na maioria das livrarias. Logo chegará lá. Você poderá comprá-la ou acessá-la pela internet (www.academia@org.br). Tudo o que foi publicado antes deve ser visto com cautela. Por quê? O texto do acordo não foi claro. Deixou margens para a subjetividade. Olho vivo!
 
 
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  Ouvi dizer que pé-de-moleque perdeu o tracinho? Verdade? Antônio Ramos, Canoas
 
 
Acredite. É verdade. A regra diz o seguinte: “Não se emprega o hífen nos compostos por justaposição com termo de ligação, como pé de moleque, folha de flandres, tomara que caia, quarto e sala, exceto nos compostos que designam espécies botânicas e zoológicas, como ipê-do-cerrado, bem-te-vi, porco-da-índia, cana-de-açúcar, canário-da-terra”.
    Entendeu? Na dúvida, lembre-se: nesse tipo de composição, só bicho e planta mantêm o hífen. Pra não esquecer, guarde estas palavras fáceis, fáceis: pé de moleque, cana-de-açúcar, joão-de-barro.
 
 
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  Como ficou o hospitaleiro bem-vindo? Clóvis Bevali, Rio
 
 
Bem-vindo continua como sempre esteve. Um pra lá e outro pra cá. No meio, a faixa, o abraço, a festa da recepção.
 
 
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Aprendi, com muito custo, que à toa é advérbio (andar à toa). À-toa, adjetivo (trabalho à-toa). Minha lição continua valendo? Carlos Amorim, João Pessoa
 
 
Não. A nova lição manda escrever tudo igual – sem hífen (andar à toa, trabalho à toa). Caso semelhante se observa na locução dia a dia. Antes, o advérbio escrevia-se sem hífen (dia a dia melhoro minha pronúncia). O substantivo, com hífen (meu dia-a-dia é pra lá de divertido). Hoje é tudo solto: Dia a dia minha pronúncia melhora. Meu dia a dia é muito divertido.
 
 
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    Tão-só e tão-somente continuam com hífen? Rafael Machado, Brasília
 
 
Não. O hífen foi plantar batata no asfalto – tão só, tão somente.