Tag: clareza
“Bolsonaro repete que nazismo é de esquerda no Museu do Holocausto”, escreveu O Globo em chamada de capa. Leitores ficaram com a pulga atrás da orelha. O nazismo só seria de esquerda no Museu do Holocausto? Não. Mas o texto diz que sim. Qual o problema? A colocação do termo “no Museu do Holocausto”. Pra acabar com a ambiguidade, ele tem de ser separado. Há […]
George Simenon escrevia romances policiais pra lá de instigantes. O segredo dele: “Livro-me de todo vocábulo que está na frase só para enfeitar… ou atrapalhar”. O homem faxinava o texto. Cortava palavras. Quais? Seu e sua. Eles são aparentemente inofensivos. Mas causam senhores estragos. Sabe por quê? Às vezes, dão duplo sentido à declaração. Acontece, então, o que Mário Quintana sintetizou: “Você pensa uma coisa. Escreve […]
Uma voz clara e harmoniosa não cai do céu. É conquista. Medidas simples fazem milagres. A mais apreciada: água. Hidratação, hidratação e hidratação é a regra. Outra: bocejos. Eles distendem as pregas vocais. Outras mais: o M pronunciado com ressonância nas bochechas (poupe a garganta). Bem-estar e bons pensamentos. Exercícios diários ajudam – e muito. Sem necessidade de academia ou tempo extra, podem ser feitos […]
Nem sempre o grampinho resulta da fusão de dois aa. Às vezes, a clareza fala mais alto. Apela-se, então, para a falsa crase. Usa-se à. É o caso de vender à vista. Aí, não ocorre o encontro dos dois aa. No tira-teima, fica clara a ausência do artigo: vender a prazo. Por que o à? Para evitar mal-entendidos. Sem o acento, poder-se-ia entender que se […]
Um texto limpo não cai do céu. Nem salta do inferno. Nasce de trabalho, humildade, desapego. E muita faxina. Como diz o outro, 10% de inspiração e 90% de transpiração. A escrita agradável tem muitos segredos. Um deles: fugir do artigo indefinido. Um, uma, uns, umas fazem estragos. Tornam o substantivo impreciso e molengão. Mais ou menos como Sansão sem cabelo. Quer ver? Fugitivos africanos […]
Os possessivos seu e sua são aparentemente inofensivos. Mas causam senhores estragos à frase. Sabe por quê? Às vezes, dão duplo sentido à declaração. Você diz uma coisa. A pessoa entende outra. Ou fica confusa. É o caso do diretor que tinha o secretário que os chefes pedem a Deus. Ele chegava entes da hora. Saía depois. Almoçava ali mesmo, ao lado do computador. De […]
A frase adora lipoaspiração. Gordurinhas aqui e ali sobram. E, porque sobram, tornam o enunciado obeso e obscuro. Melhor recorrer ao bisturi. Elimine palavras ou expressões desnecessárias: processo de adaptação: adaptação decisão tomada no âmbito da diretoria: decisão da diretoria trabalho de natureza temporária: trabalho temporário problema de ordem sexual: problema sexual curso em nível de pós-graduação: curso de pós-graduação lei de alcance federal: lei […]
Termos longos ligados por uma fileira de dês constituem pedra no caminho do leitor. De um lado, pecam pela abstração. De outro, pela dificuldade de serem entendidos. Vale tudo para descarrilhar o trenzinho. A melhor estratégia: transformar substantivos e adjetivos em verbos. Veja: O progresso dos estudantes de instituições de ensino do governo é lento. Ruim, não? O período, além da fileirinha de dês, parece […]
Por que ordem direta? Na leitura rápida, a memória funciona a curto prazo. É como quando alguém diz a placa do carro ou o número do telefone. Para não esquecê-los, temos duas saídas — repeti-los muitas vezes, ou anotá-los. Mais: a cabeça retém melhor o que vem primeiro. Daí a importância da ordem direta. Na frente, o mais significativo. Atrás, o secundário. Sujeito + verbo […]
Vamos combinar? As palavras são traidoras que só. Daí por que Mário Quintana escreveu: “A gente pensa uma coisa, escreve outra, o leitor entende outra, e a coisa propriamente dita desconfia que não foi dita”. Lidar com criaturas tão instáveis exige atenção plena. Um dos cuidados é a colocação. Postos em determinado lugar, termos da oração dão recados diferentes. A Folha de S. Paulo de […]