Sina de ministros da Educação

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Você viu? Se não viu, talvez tenha ouvido. Foi na quinta-feira — cedinho, os ponteiros não tinham marcado 7h30. O ministro da Educação dava entrevista ao Bom-Dia, Brasil. Falava da melhora nos indicadores do ensino básico. Citava números e estatísticas. Dava exemplos. Comparava e confrontava. Era um entusiasmo só. De repente, não mais que de repente, soltou esta:

 
— A nossa série histórica é muito “rúim”.

 
Assim mesmo. Ruim, na pronúncia de Sua Excelência, ganhou baita acento no u. Virou monossílaba em vez de dissílaba. A silabada doeu. Telespectadores de boa memória lembraram tropeço de outro ministro da Educação. Paulo Renato, no programa eleitoral gratuito, elogiava os avanços que mestres, escolas e ensino experimentaram na administração FHC. Pra coroar o discurso, brindou a todos com esta pérola:

 
— A educação no governo Fernando Henrique Cardoso vai de encontro às expectativas da sociedade.

 
Dizem que FHC não perdeu a reeleição por pura sorte. Era sábado. Os eleitores não assistiram ao programa. Se assistiram, não prestaram atenção. A caipirinha, o feijão, o torresmo, paios, costelas, rabos, orelhas e couve falaram mais alto. Os tucanos dão graças a Deus até hoje.
 

 
Os opostos

 
Paulo Renato confundiu os contrários. De encontro a e ao encontro de se parecem, mas o sentido de uma se opõe ao da outra. Trocar as bolas só traz prejuízos. Amores se rompem. Promoções se adiam. Reputações se mancham. Valha-nos, Senhor amado!

 
De encontro a significa contra, no sentido contrário, em oposição: A ressurreição da CPMF vai de encontro às expectativas da sociedade. O carro foi de encontro à árvore. A queda do dólar vai de encontro à ambição dos exportadores.
 
Ao encontro de quer dizer em favor de, na direção de: O pai caminhou ao encontro do filho. A melhora da qualidade do ensino vem ao encontro das necessidades do país. O respeito à faixa de pedestres vem ao encontro da campanha Paz no Trânsito. 
 

 Como se diz?
 
Fernando Haddad deslocou a sílaba tônica da palavra. Em ruim, a fortona é im. Ele a transferiu para ru. Cometeu uma silabada. Entrou no time dos que dizem rúbrica em vez de rubrica, pégada em lugar de pegada, Nóbel em substituição a Nobel.
 
Telespectadores ouviram. Ficaram preocupados. Se Sua Excelência cai numa dessas, manda o bom senso pôr as barbas de molho. “O que fazer?”, perguntaram ao blog. O Brasil não tem pronúncia padrão. Sem lei que defina esta ou aquela forma de dizer tal ou qual palavra, a língua parece a casa-da-mãe-joana. Mas não é.
 
Embora poucas, algumas normas se impõem. Respeitá-las tem duas vantagens. Uma: pega bem à beça. O falante diz, sem dizer, que conhece as manhas da língua. A outra: homenageia o ouvinte. Sem correr risco de pegar otite, a pessoa presta atenção ao recado, não aos ruídos da comunicação. 
 

Uma dica
 
Não pronuncie a consoante que vem antes de outra como se houvesse uma vogal entre elas. Diga ad-vogado, não ade-vogado; ad-ministração, não adi-minstração; ad-vento, não adi-vento; ad-versativa, não adi-versativa; estag-nar, não estagui-nar; consig-nar, não consigui-nar; ab-solver, não abi-solver; ab-soluto, não abi-soluto; ab-surdo, não abi-surdo; ap-to, não ápi-to; cap-tar, não capi-tar; op-ção, não opi-ção.

 
Reparou? A intromissão da vogal não é casual. Ela só ocorre depois de consoantes que não têm vez no fim da palavra. Em português, nenhum vocábulo acaba com d, b, p, g. O falante apela para o que o ouvido está acostumado a ouvir. Daí dar passagem à penetra indesejada. 
 

Outra dica
 
No diminutivo, mantenha o som aberto ou fechado da palavra original. É o caso de café, cafezinho; vovó, vovozinha; vovô, vovozinho; cola, colinha; jóia, joinha; Joca, Joquinha; Jorge, Jorginho.
 

Mais uma
 
Ponha a força na sílaba em que o til aparece. Sem acento, é ela sempre a tônica. Se não for, haverá um grampinho pra indicar quem é que manda no pedaço. Compare: irmão e traição com órgão e órfão; irmã e alemã com ímã e órfã.
 

A mais importante
 
Na dúvida, recorra às obras de consulta. Dicionários ajudam. Os dicionários de pronúncia ajudam mais. Gramáticas também socorrem os aflitos. No capítulo que trata de fonética e fonologia, além das regras existentes, apresentam listas de palavras com pronúncias duvidosas. Mãos à obra.