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Dad Squarisi // dadsquarisi.df@@diariosassociados.com.br
Rafael, de três anos, visitou a avó. No almoço, comeu até se sentir satisfeito. Ensaiou, então, voltar às brincadeiras. A avó pediu que ele comesse mais. Ele disse não. Ela insistiu. Ele se manteve firme. Ela teimou. “Só mais uma colher, Rafael, a última”. Ele a olhou firme e, do alto dos mil dias de vida, ensinou:
— Vovó, sim é sim; não é não.
A história traz à tona a compreensão de palavras. O domínio do significado não se traduz, necessariamente, em ação coerente. Embora ouvidas a torto e a direito, muitas parecem não ser entendidas. Uma delas é preferencial. A lei assegura tratamento privilegiado a certas pessoas. Deficientes, idosos, grávidas, crianças têm limitações impostas pela idade ou por condição física excepcional. Sem resistência pra enfrentar filas, precisam ser atendidos com rapidez. Não há exceção.
Bancos, supermercados, cinemas, companhias aéreas, órgãos públicos têm de obedecer à norma legal. Obedecem? Não. Basta observar os balcões de aeroportos, os guichês da Receita, os caixas de bancos e supermercados para ver o inacreditável. As maiores filas são as preferenciais. Um funcionário (só um) — nem sempre o mais eficiente ou o mais ágil — atende a dezenas de criaturas. Elas, em razão das limitações, também são lentas. Resultado: o benefício se transforma em punição.
Vale a pergunta. Preferencial é o caixa ou a pessoa? A resposta não deixa dúvida. Ora, se preferencial é a pessoa, há necessidade de caixa preferencial? Ou o adjetivo embala com laços e celofane o velho jogo do faz de conta? Com ele, cumpre-se a lei sem cumpri-la. Em suma: encontrou-se um jeito de dar um jeito. Mais do que mudar pra ficar na mesma, muda-se pra piorar.
Ora, se a lei quis facilitar a vida dos que precisam ter a vida facilitada, a existência de caixa particular é dispensável. Para o preferencial, todos os caixas são preferenciais. Os outros terão vez quando terminar o atendimento do público que goza da primazia. Como diria o Rafael, preferencial é preferencial.