Sem querer, querendo

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Aqui, a coisa virou moda. Alguém entra na sala e não dá outra. Soltam esta:
 
— Sem querer interromper, mas já interrompendo…
 
O recurso é velho como o rascunh o da Bíblia. Chama-se preterição. Trata-se de um teatrinho. A pessoa finge não fazer o que, de fato, está fazendo. É mais ou menos a história do jogador da piada. O centroavante fez um gol inesperado:
 
— Como foi?, perguntou o repórter.
 
— Fingi que fui. Não fui. Acabei fondo.
 
Os escritores são fregueses da figura. Veja este trecho de Costa e Cunha:
 
“Não vos pintarei os tumultos, a grita da multidão: o sangue de todos os lados, o corpo do filho estendido sobre o cadáver do pai, as mães em lágrimas, os irmãos erguendo uns contra os outros as espadas fratricidas, o incêndio, a ruína, a desolação por toda parte”.
 
Precisa de mais? Ele disse que não falaria no assunto. Imagina se falasse.