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Na academia, a moçada suava. Malhas colantes em corpos sarados, rapazes e moças conversavam. O assunto era um só. a festa dos formandos da faculdade de arquitetura. O badalo prometia. Música boa e gente interessante eram as maiores atrações.
No meio da conversa, Paulo perguntou:
. Quanto custa o ingresso?
. A festa é 0800, cara.
. 0800? A festa é de grátis?
De grátis? Paulo misturou as bolas. Mas não está sozinho no time promíscuo. É cada vez mais freqüente ouvir a expressão. A coisa começou na campanha eleitoral. Políticos a usavam. Eleitores a repetiam.
No início, por gozação. Depois, por hábito. A língua é um conjunto de possibilidades. Generosa, oferece um leque de opções para dizer a mesma coisa. “A festa é 0800”, informa a moçada.
“A entrada é franca”, preferem os pais. “A entrada é grátis”, anunciam as tias. “A entrada é de graça”, dizemos todos.
“De grátis” resulta de mistura indigesta. Pega o de de “de graça” sem pedir licença. E o acrescenta ao “- grátis” sem autorização. É contágio. Vacina na turma!
QUEM PERGUNTA O QUE QUER…

Numa tarde outonal, Samuel se encontra com o velho amigo Jacó. Cumprimentam-se. Abraçam-se.
E vem a pergunta inevitável:
– E aí, Jacó, quanto tempo! Como vai você?
– Vou muito mal.
– Por que, Jacó? O que foi que aconteceu?
– Minha mãe morreu na semana passada.
– Que pena! Meus pêsames. O que é que ela tinha?
Infelizmente pouca coisa: uma casa, duas lojinhas no centro da cidade e um terreninho no interior.
OS GORDOS

Hoje não se discute. A obesidade é doença. Quilinhos a mais fazem duplo mal. De um lado, maltratam a estética. De outro, apressam a curta vidinha da gente. A língua não foge à regra. A gordura – sem quê nem porquê – não tem vez. É o caso da
palavra chamado. A pessoa ou coisa é… e pronto. Não se justificam frases como esta: “Cerca de 500 barcos participaram do chamado Círio Fluvial”. Uma dietazinha faz bem:
Cerca de 500 barcos participaram do Círio Fluvial. Xô, modismo!
LEITOR PERGUNTA
Trabalho com conferência de documentos. Muitas vezes preciso pedir cópia de um texto ou outro. Fico sempre na dúvida ao solicitar xerox: de “documentos pessoal” ou
“documentos pessoais”?

Myriam das Graças Belga de Freitas, Montes Claros
Pessoal é adjetivo. É, pois, subordinado ao substantivo. Concorda com ele em gênero e número: menino estudioso,menina estudiosa, meninos estudiosos, meninas estudiosas, documento pessoal, docu mentos pessoais.
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A manchete “Decretada a prisão do P acusado de matar três estudantes” publicada no Jornal do Commercio de terça traz a passagem: “O suspeito saiu fazendo ameaças e teria pegado uma arma no carro e atirado na frente do clube”. Fiquei estarrecido com o “pegado”. Mais: não é possível que o homem tenha atirado “na frente do clube” já que está sendo considerado culpado pela morte de três pessoas. O correto não seria “em frente”?

Alex Correia, Niterói
1. O verbo pegar é abundante. Generoso, tem dois particípios. Um deles: pegado. O outro: pego. O grandão, regular, emprega-se com os auxiliares ter e haver ( tinha pegado, havia pegado). O pequeno, irregular, acompanha ser e estar (é pego, está pego).
Modernamente, há preferência pelo dissílabo. Mas o trissílabo continua tendo vez. Nota dez para o JC.
2. Atirar “na frente do clube” dá a idéia de que o alvo foi o prédio. Mas não foi. O homem estava “em frente” do clube quando atirou. O alvo? Gente como a gente.
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“Grande maioria”? Quero que você me convença de que a expressão está certa. Maioria é maioria.Para que o grande?

Cris, Brasília
Maioria é metade mais um. Num grupo de 50, 26 formam
maioria. A vantagem é mínima. Por isso, constitui pequena
maioria. Se forem 45 , a história muda. É grande maioria. Dá pra
deitar e rolar.