Na língua existem criaturas errantes. São os pronomes átonos. Me, te, se, lhe, o, a adoram bater perna. Ora aparecem antes do verbo. Ora, depois. Há também os que se metem no meio. Mas, apesar da flexibilidade, muitos abusam. Cometem pecados. Sete se destacam.
1. Iniciar a frase com o fracote
O pronome se chama átono porque é fraco. Tão fraco que precisa de apoio. Onde se encostar? Em outra palavra. Por isso, na norma culta, é proibido iniciar a frase com pronome átono. O pecador deixa a vítima desamparada. Ela tomba. Na queda, atropela a reputação do ímpio.
2. Ignorar a abrangência de iniciar
Olho vivo! Iniciar a frase tem duas acepções. Uma é iniciar mesmo, ser a primeira palavra do período. Assim: Me dá um cigarro? Te telefono amanhã. Lhe deu a resposta ontem.
A outra usa máscaras. Deixa o pronome desprotegido. Mas não inicia a frase. Em geral vem depois de vírgula. Compare: Aqui se fala português. (O aqui ampara o pronome.) Aqui, fala-se português. (Ops! A vírgula impede o apoio.)
Nem sempre a vírgula expulsa o pequenino para depois do verbo. Há casos em que ela separa termos intercalados. O apoio se distancia, mas permanece. Preste atenção na malandragem:
Brasília se localiza no Planalto Central. Brasília, a capital do Brasil, se localiza no Planalto Central. (Mesmo de longe, Brasília ampara o pronome.)
3. Desrespeitar a atração
Há palavras que funcionam como ímãs. Puxam o pronome para junto de si. Lembra-se delas? Eis algumas:
a. a gangue do qu (que, quem, quando, quanto, qual): Quero que se retirem logo.
b. a turma negativa (não, nunca, jamais, ninguém, nada): Não me disse nada.
c. as senhoras conjunções subordinativas (como, porque, embora, se, conquanto): Se me convidarem, irei.
4. Bobear com o futuro
Sabia? A terminação do futuro tem alergia ao pronome. Ambos, futuro do presente (irei) e futuro do pretérito (iria), ficam cheinhos de brotoejas diante do átono. A saída? Há duas.
1. levar o pronome para antes do verbo. No caso, o pequenino tem de ter amparo: Maria me telefonará amanhã. Se pudesse, Bolsonaro, o presidente do Brasil, se manteria no Planalto.
2. ficar no meio do caminho. Sem apoio e impedido de se colocar na rabeira do verbo, fica no meio do caminho. Como? Posiciona-se entre o infinitivo e a terminação do verbo. Veja:
Telefonar-lhe-ei amanhã. Falar-se-iam mais tarde.
5. Esquecer a maquiagem
Ops! Olho nos pronomes o e a. Antecedidos de r, s, z, viram lo, la: Vou pôr o livro na estante. (Vou pô-lo na estante.) Ajudamos os amigos. (Ajudamo-los.) Fez a filha feliz. (Fê-la feliz.)