“Perdoais-nos as nossas ofensas”, escreveu o articulista. Tropeçou no imperativo. O nome denuncia o caráter da forma verbal. Ela ordena, pede, suplica. Em português claro: manda e desmanda. Se manda, é imperativo afirmativo. Se desmanda, imperativo negativo.
Mandão
O imperativo afirmativo divide as pessoas do discurso em dois grupos. As segundas pessoas (tu e vós) ficam de um lado. As outras (ele, nós, eles), de outro. Nada de misturas.
Daí por que o afirmativo tem duas mães. O tu e o vós derivam do presente do indicativo. Mas esnobam o s final. As demais pessoas saem do presente do subjuntivo — sem tirar nem pôr.
Veja o verbo estudar:
Presente do indicativo: eu estudo, tu estudas, ele estuda, nós estudamos, vós estudais, eles estudam
Presente do subjuntivo: que eu estude, tu estudes, ele estude, nós estudemos, vós estudeis, eles estudem
Imperativo afirmativo: estuda tu, estude você, estudemos nós, estudai vós, estudem vocês
Desmandão
O imperativo negativo quer ser entendido. Por isso, foge da confusão. Forma-se todinho do presente do subjuntivo acompanhado do advérbio não: não estudes tu, não estude você, não estudemos nós, não estudeis vós, não estudem vocês.
Eureca
Ao escrever “Perdoais-nos as nossas ofensas”, o autor tropeçou na formação do imperativo afirmativo. Na 2ª pessoa do plural, o s não tem vez. Xô! Xô! Xô!
Assim
Presente do indicativo: eu perdoo, tu perdoas, ele perdoa, nós perdoamos, vós perdoais, eles perdoam
Presente do subjuntivo: que eu perdoe, tu perdoes, ele perdoe, nós perdoemos, vós perdoeis, eles perdoem
Imperativo afirmativo: perdoa tu, perdoe você, perdoemos nós, perdoai vós, perdoem vocês
Imperativo negativo: não perdoes tu, não perdoe ele, não perdoemos, não perdoais vós, não perdoem eles
Moral da opereta
A forma nota 10 é esta: Perdoai-nos as nossas ofensas.
Simples assim.