Pedro, a pedra

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Você se chama Pedro? Seu nome tem significado pra lá de especial. Quer dizer pedra, rocha. Outro Pedro fundou a Igreja Católica e foi o primeiro papa. Como se não bastasse, o homem tem a chave do céu. Só entra no paraíso quem ele autorizar. Manda o bom-senso garantir a vaga. Hoje é o dia dele. Vamos bajulá-lo.

Se você mora em cidade praiana, participe das procissões marítimas ou fluviais. Se longe, solte fogos e suba em pau de sebo. Se você é xará do todo-poderoso, acenda fogueiras na porta de casa. Se alguém amarrar uma fita no seu braço, esteja prevenido. Dê-lhe um presente ou lhe pague uma bebida. A causa é justa — homenagear o santo.   O senhor da chuva

São Pedro manda na chuva. Para acabar com secas longas, o povo tem a receita. Reza, faz promessas e organiza procissões. Não dá outra. Os trovões anunciam as águas generosas. Se o barulho assustar as crianças, acalme-as com uma destas explicações. Diga que se trata do ronco da barriga de São Pedro. Ou, se preferir, que o santo está mudando os móveis de lugar.   Dona natureza

O porteiro do céu atende as preces. Com uma condição: não vale bobear. Olho vivo! Chover, trovejar, relampejar, nevar & cia. pertencem à família pra lá de singular. É a dos verbos que indicam fenômenos da natureza. Eles têm uma marca. São impessoais. Só se conjugam na 3ª pessoa do singular: Ontem trovejou, mas não choveu. Será que hoje vai chover? Nevou em várias cidades do sul do Brasil.   Outros membros

Fazer e haver se parecem com os gatos. Adotam várias famílias com a naturalidade do suceder dos dias e das noites. Ora figuram no clã dos verbos pessoais. Ora, no dos impessoais. Quando circulam no primeiro grupo, conjugam-se em todas as pessoas, tempos e modos: faço, fazes, faz, fazemos, fazeis, fazem; hei de estudar, hás de estudar, há de estudar, havemos de estudar, haveis de estudar, hão de estudar.

É no segundo grupo que a porca torce o rabo. Impessoal, a duplinha toca o samba de uma nota só. Flexiona-se apenas na 3ª pessoa do singular. A norma não causa problemas na indicação de fenômeno da natureza (faz frio, faz calor). Pinta confusão na contagem de tempo. Desavisados dizem “fazem anos”, “fazem dois dias” e por aí vai.

Nada feito. Melhor dar a César o que é de César: Faz anos que trabalho aqui. Fez 25 anos que Paulo e Maria se casaram. Amanhã fará 20 dias que o bebê nasceu. Há duas semanas saí da cidade. O quadro estava no museu havia dois meses quando foi roubado.   Contágio 1

A impessoalidade é pra lá de poderosa. Ela contagia os auxiliares. Se o verbo principal joga no time singular, os acompanhantes não têm saída. Vão atrás. Compare: Faz dois anos que moro aqui. Deve fazer dois anos que moro aqui. Vai fazer dois anos que moro aqui. Pode fazer dois anos que moro aqui. Talvez vá fazer dois anos que moro aqui.   Contágio 2

O haver ultrapassa os limites do tempo. Na acepção de existir e ocorrer, mantém-se impessoal. Também aí a impessoalidade atinge os auxiliares: Há 10 pessoas na sala. Deve haver 10 pessoas na sala. Pode haver 10 pessoas na sala. Vai haver, mais ou menos, 10 pessoas na sala. Talvez possa haver 10 pessoas na sala. Não houve distúrbios na Parada Gay. Talvez tenha havido distúrbios na Parada Gay. Poderia haver distúrbios na Parada Gay?