Palanque eletrônico 17

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Narcisos da telinha

Dad Squarisi

De ego nasceu o eu. E deu origem a conhecida prole. Egoísta é um de seus membros. Egocêntrico, outro. Ególatra, mais um. Todos têm um ponto comum: o olhar posto no próprio umbigo. Ou na ponta do nariz.

Adorar a si mesmo não é coisa nova. A mitologia grega tem até um deus para representar a egolatria. É Narciso. O mancebo era o belo entre os belos. As ninfas não resistiam a seus encantos. Batiam o olho nele e não dava outra. Caíam de amor. O moço não estava nem aí pras mocinhas.

Uma delas, Eco, não conseguia apagá-lo do coração. Esnobada, adoeceu. Ficou magra, magra. Do lindo corpo só restaram os ossos e a voz. Os ossos transformaram-se em rochedo. A voz ficou viva para responder aos que a chamavam. Daí nasceram eco e ecoar.

“Vingança”, clamavam as mulheres desprezadas. Nêmeses tomou-lhes a frente. Um dia, fez Narciso contemplar o próprio rosto nas águas de uma fonte. Ao ver tanta beleza, o moço ficou extasiado. Apaixonou-se por si mesmo. Não se mexeu do lugar. Morreu.

Mais tarde, os contos de fada exploraram o mito. Um deles é a Branca de Neve e os sete anões. A madrasta má não cansava de perguntar: “Espelho, espelho meu, existe alguém mais lindo do que eu?” “Não”, era a resposta. Um dia a casa caiu. A enteada tomou-lhe o lugar. Deu no que deu.

Artistas são ególatras por natureza. Políticos também. Os programas eleitorais servem de prova. O que fazem Agnelo, Roriz & cia. na telinha? Elogiam-se. Exibem obras. Acumulam promessas pra inglês ver. Em suma, abusam do eu. Pra disfarçar, dão a vez a outras pessoas. O que os convidados fazem? Trocam seis por meia dúzia. Exaltam as virtudes do Narciso.