Palanque eletrônico 10

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Mensagem

Viva o povo

Dad Squarisi

Coisas de campanha? Boné, camiseta, bottom, faixa, bandeira, santinho. E, claro, povo. Povo? Que povo? O Aurélio o define. É o conjunto de indivíduos que falam a mesma língua, têm costumes e hábitos idênticos, afinidade de interesses, história e tradições comuns. Alguns o chamam de povão. Outros, de zé-povinho. Massa também serve.

Na França, foi denominado o terceiro estado — tudo o que não era clero nem nobreza. Aqui ganhou outras especificações. “Apenas um detalhe”, rotulou-o Zélia Cardoso de Melo, a ministra da Fazenda de Collor. É o dono da Praça Castro Alves”, cantou Caetano. É o “porta-voz do Senhor”, juram os pais de santo. E explicam: “A voz do povo é a voz de Deus”.

Os oclófobos (pessoas que têm medo de multidões) não pensam assim. “O povo não existe”, afirmou o então governador alagoano Goes Monteiro. “Onde mora o povo?”, perguntou João Mangabeira pra não passar por perto. “Prefiro cheiro de cavalo ao cheiro de povo”, revelou João Figueiredo. “O povo? Vá para aquele lugar”, desabafou Hélio Pelegrino. “Quero que o povo se exploda”, resumiu Justo Veríssimo.

José Maria Alkmin foi claro: “Povo é muito bonito visto do palanque”. Aí, ganha vocativos. É minha gente, gente amiga, meus amigos, meu povo, brasiliense, família brasiliense, brasileiros e brasileiras, cidadãos e cidadãs, trabalhadores e trabalhadoras. Etc. Etc. Etc.

Nos programas eleitorais, a varinha de condão entra em cartaz. O espectro mal-educado, malvestido, malnutrido, malcheiroso e maltudo faz a festa. Aparece em imagens sorridentes e satisfeitas na cidade maravilha de Roriz. Sofridas, ansiosas por mudanças e bem-estar nas de Agnelo. A média? Você decide. Você, o povo. Aquele mesmo, do surrado folclore: Viva eu, viva tu. Viva o rabo do tatu.