A cena é familiar. Alguém vai andando galhardamente. Cabeça erguida, ombros eretos, barriga chupada, bumbum encaixado. De repente, não mais que de repente, tropeça. Levanta-se rápido. Desconfiado, olha pra lá e pra cá. Continua a marcha como se nada tivesse acontecido. Mas o estrago está feito. A frase também tropeça. Basta pôr certa vírgula em certo lugar. Mais precisamente: basta provocar o adjunto adverbial que […]
“O título é a metáfora essencial do livro.”
A palavra vírgula vem de longe. Nasceu no latim. Lá, queria dizer varinha. Também significava pequeno traço ou linha. Depois, virou sinal de pontuação. Indica pausa rápida, menor que o ponto. A mocinha atravessou os séculos. No caminho, suscitou discussões. Alguns afirmam que seu emprego é questão de gosto. A gente põe o sinalzinho onde tem vontade. Outros dizem que basta ler a frase. Parou […]
“Se uma pessoa não pensa, não sabe o que fala nem compreende o que lhe dizem. Discutir com ela é impossível.”
Numa casa de praia, em um lugar bem isolado, a avó saiu com o netinho para ir brincar na areia. O garoto estava só de short e com um bonezinho vermelho – uma das mãos segurando a mão da avó e na outra levando um baldinho e uma pazinha para brincar. Sentou-se na areia e começou a fazer um castelinho, quando uma imensa onda veio […]
A história é velha. Tão velha quanto andar pra frente. José Cândido de Carvalho conta o fato. Freixeiras, funcionário da Companhia de Água e Esgotos do Rio de Janeiro, tinha um grande orgulho. Era a única pessoa na repartição que sabia pôr as vírgulas no lugar certo. Todos o reverenciavam por isso. Ninguém ousava contrariá-lo. Mas não há bem que sempre dure nem mal que […]
“A crase não foi feita pra humilhar ninguém”, escreveu Ferreira Gullar. “Nem a vírgula”, completou José Cândido de Carvalho. Ambos têm razão. O blogue desatou os nós que dificultam o emprego do acentinho grave. Chegou a vez do sinal de pontuação. São quatro lições. Arregace as mangas e ponha a mão na massa. Vamos lá?
Crase antes de possessivo? Depende. Por quê? Simples como dois e dois são quatro. Esse pronomezinho goza de privilégios. Pode vir acompanhado de artigo ou não. Fica a critério do freguês dizer: Minha cidade tem dois milhões de habitantes. Ou: A minha cidade tem dois milhões de habitantes. Ora, a crase é a fusão da preposição a com outro a. Por isso está correto […]
A queda da taxa de juros provoca reações. Os banqueiros se opõem à redução porque ganharão um pouco menos. Empresários, produtores e brasileiros em geral aplaudem a iniciativa. Com o crédito mais barato, podem produzir mais e comprar mais. E daí? O Banco Central acena com a possibilidade de continuar a descida aos pouquinhos. Em etapas. “À prestação”, explicou o presidente. Os jornais correram atrás […]
“Eta linguinha!”, exclamavam os revisores do Correio. Eles estavam numa enrascada. É que a revista Veja inventou um marciano. Chama-se Arc. O mocinho resolveu dar uma voltinha. Espiou a galáxia. Achou este planeta interessante. Não pensou duas vezes. Tomou um disco-voador. E chegou…a Terra? À Terra? Os gramáticos ensinam: cuidado com a palavra terra. Quando a bichinha se opõe a mar (=a água), recusa o […]