A Copa acabou. Mal a França levantou a taça, a campanha eleitoral entrou no ar. Os candidatos querem fazer bonito. Contratam marqueteiros. Fantasiam-se de bonzinhos, trabalhadores e competentes. Ensaiam o discurso. Esbanjam próclises e mesóclises. Treinam formas rizotônicas e arrizotônicas. Sobretudo evitam o eu. O pronomezinho dá a impressão de arrogância. Saída? Os loucos pelo poder recorrem a truques. O mais popular: o plural de […]
“Elogiar não dá mais trabalho do que criticar.”
Há pleonasmos pra lá de conhecidos. É o caso de subir pra cima, descer pra baixo, entrar pra dentro, sair pra fora, elo de ligação, habitat natural, panorama geral. Só se sobe pra cima, só se desce pra baixo, só se entra pra dentro, só se sai pra fora, todo elo é de ligação, todo habitat é natural, todo panorama é geral. Melhor mandar a […]
Um texto limpo não cai do céu. Nem salta do inferno. Nasce de trabalho, humildade, desapego. E muita faxina. Como diz o outro, 10% de inspiração e 90% de transpiração. A escrita agradável tem muitos segredos. Um deles: fugir do artigo indefinido. Um, uma, uns, umas fazem estragos. Tornam o substantivo impreciso e molengão. Mais ou menos como Sansão sem cabelo. Quer ver? Fugitivos africanos […]
O João pensou, pensou, pensou. Depois, ficou encucado. O uso do “particularmente” na expressão “eu, particularmente, acho” não é demais? Sobra? Sobra. O eu já é particular. Sabe o que mais? O acho também excede. Com ele, o enunciado vira achismo. Fica fraco, sem seriedade. Experimente começar a frase sem o “eu acho que”. Ela fica enxuta e convincente: (Eu acho que) O país vai […]
Os possessivos seu e sua são aparentemente inofensivos. Mas causam senhores estragos à frase. Sabe por quê? Às vezes, dão duplo sentido à declaração. Você diz uma coisa. A pessoa entende outra. Ou fica confusa. É o caso do diretor que tinha o secretário que os chefes pedem a Deus. Ele chegava entes da hora. Saía depois. Almoçava ali mesmo, ao lado do computador. De […]
Mistérios cercam o eis. Pra início de conversa, ninguém sabe ao certo de onde vêm as três letrinhas. Palpiteiros afirmam que talvez provenham de heis ou haveis. Talvez. Certeza não há. Além da curiosidade sobre o pai e a mãe da criatura, fica outra questão. A que classe gramatical ela pertence? Ninguém sabe. Sem se enquadrar na turma dos advérbios nem em nenhuma outra, classifica-se […]
Chego em Brasília? Chego a Brasília? A gente chega a algum lugar: Chega a Brasília. Chega a São Paulo. Chega ao estádio. Chega ao clube. Chega ao cinema.
A frase adora lipoaspiração. Gordurinhas aqui e ali sobram. E, porque sobram, tornam o enunciado obeso e obscuro. Melhor recorrer ao bisturi. Elimine palavras ou expressões desnecessárias: processo de adaptação: adaptação decisão tomada no âmbito da diretoria: decisão da diretoria trabalho de natureza temporária: trabalho temporário problema de ordem sexual: problema sexual curso em nível de pós-graduação: curso de pós-graduação lei de alcance federal: lei […]
Termos longos ligados por uma fileira de dês constituem pedra no caminho do leitor. De um lado, pecam pela abstração. De outro, pela dificuldade de serem entendidos. Vale tudo para descarrilhar o trenzinho. A melhor estratégia: transformar substantivos e adjetivos em verbos. Veja: O progresso dos estudantes de instituições de ensino do governo é lento. Ruim, não? O período, além da fileirinha de dês, parece […]