Maria, quando fala, olha fundo nos olhos da pessoa. Com o tempo, se deu conta de que existem poucos olhos iguais. Há mil e uma nuanças que diferenciam uns de outros. Surgiu, então, uma dúvida. Por que, no plural dos adjetivos indicadores de cor, só claro e escuro se flexionam? As outras indicações de tonalidade ficam invariáveis. O mistério tem um porquê?
Tem. É a velha história dos adjetivos compostos. Quando os dois elementos são adjetivos, o primeiro apela pra lei do menor esforço. Acomoda-se. Deixa a dureza com o segundo: olhos castanho-claros, olhos azul-escuros, olhos verde-claros, camisas verde-amarelas.
Às vezes, quem responde pela diferença é um substantivo. É o caso de verde-mar, castanho-avelã, azul-bebê, verde-canário. Ora, mar, avelã, bebê e canário são nomes. Não indicam cor. Então, a língua recorre a um truque. Deixa subentendida a expressão da cor de. Com ela, o substantivo não tem saída. Fica sempre no singular: olhos verde-(da cor do) mar, olhos castanho- (da cor da) avelã, olhos verde-(da cor do) canário.