O time do Lula

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DAD SQUARISI // dadsquarisi.df@dabr.com.br

Lula sai do governo com 87% de aprovação. Se a voz do povo é a voz de Deus, a voz do diabo pergunta: qual a receita? Como, depois do desgaste natural de oito anos de mandato, a saída do presidente é mais festejada que a entrada? Aonde ele vai, multidões o aclamam. A cada despedida (e põe despedidas nisso!) a emoção domina adultos e crianças. Qual a mágica?

É verdade que Lula promoveu a maior mobilidade social desde a descoberta de Pindorama. De 2003 a 2009, 17 milhões de brasileiros subiram de andar. Jovens sem esperança de atravessar os portões da universidade chegaram à pós-graduação. Milhões de trabalhadores ingressaram no mercado formal. O crédito, eterna miragem, ganhou número e senha.

É também verdade que, ao engrossar o centro da pirâmide, eles mudam o ponto de vista. Tornam-se consumidores. Impõem a vontade. Querem mestrados, casa própria, viagens, acesso aos bens da civilização. Eis a mágica. Lula deu o mesmo salto que os moradores de baixo. De pau de arara, virou metalúrgico, líder sindical, deputado e presidente.

Tem sensibilidade diferente da exibida por gigantes políticos que o antecederam. Getúlio e JK, por exemplo, lá do alto, olharam para o povo. Sentiram pena. Lula, da mesma altura do povão, consegue mirar adultos e crianças nos olhos. Põe-se no lugar deles. Sente compaixão.

Ele governou com compaixão. Sabia o que é não ter comida na mesa. Prometeu que os brasileiros fariam três refeições por dia. Sabia o atraso que a escuridão significa. Promoveu o Luz para Todos. Sabia o estigma que a falta de escolaridade acarreta. Criou o ProUni. Sabia o peso do aluguel no mês do assalariado. Lançou o Minha Casa, Minha Vida.

Mais: Lula fala a língua do povo. Venceu os percalços da gramática sem adotar o pedantismo. Com humor contagiante, usa gírias, ditos e metáforas familiares a João, Maria, José. Recebe os visitantes com a galinhada dos farofeiros. Adora futebol como os 190 milhões de brasileiros. Com um pormenor: torce para o popularíssimo Corinthians. Ao ouvi-lo falar do alvinegro, João Marcelo, de 7 anos, vestiu a camisa do “time do Lula”. (Pra desgosto pai, são-paulino, e da avó, flamenguista roxa.)