Mim não faz nem acontece

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A conversa rolava solta. Grupinho de estudantes comentava questões do simulado aplicado no fim de semana. Uma delas referia-se ao emprego dos pronomes eu e mim. Apesar de simples, o assunto ainda pega a moçada pelo pé. A prova apresentou duas frases quase iguais. Qual delas merece nota mil?
 
 
a. Depois da reunião, fiquei na sala. O professor deixou um texto para eu ler.
 
 
b. Depois da reunião, fiquei na sala. O professor deixou um texto para mim ler.
 
 
A grande vilã é a preposição para. Ela adora armar ciladas. Nós, desatentos, entramos na dela como patinhos recém-saídos da casca do ovo. Depois, na hora de conferir o gabarito, a ficha cai. Adeus, preciosos pontinhos! O remédio? Nada melhor que a prevenção. No caso, refrescar a memória.
 
 
— Mim ou eu?, provocava o professor brincalhão.
 
 
E completava:
 
 
— Lembrem-se: mim não faz nem acontece.
 
 
A explicação não deixava dúvidas:
 
 
— O pronome mim tem fobia ao isolamento. Anda sempre – sempre mesmo – acompanhado de preposição. Pouco seletivo, aceita qualquer uma de braços abertos e coração em festa: Dirigiu-se a mim. Jurou inocência ante mim e os demais amigos. Paulo depôs contra mim. Revelou o segredo só para mim. Confirmou tudo perante mim. Não há nada entre mim e o diretor.
 
 
O eu joga em outro time. Pertence à equipe dos auto-suficientes. Todo-poderoso, escolheu para si a função de sujeito. Para não deixar dúvida, registrou a posse em cartório. Veja exemplos: O diretor deixará o relatório para eu redigir (quem redige? Eu, sujeito). Pediu para eu responder à carta (quem responde? Eu, sujeito). Deixou os filhos para eu cuidar (quem cuida? Eu, sujeito).
 
 
Viu?  Diante da preposição para, abra os olhos e afine os ouvidos. Ela introduz uma oração reduzida de infinitivo? Se a resposta for sim, o pronome  vem seguido de verbo (no infinitivo, claro). É o caso da questão do simulado: O professor deixou um texto para eu ler.
 
 
 
Olho vivo
 
Não caia em ciladas. O para mim pode merecer nota 10. No caso, não tem a menor intenção de usurpar o lugar do sujeito. Compare:
 
Falar inglês é fácil para mim.
 
Para mim falar inglês é fácil.