Leitor pergunta

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Sou atento leitor de jornais. Além do interesse na notícia, presto atenção especial à língua. Tropeços não passam despercebidos. No domingo, encontrei “falsicação de documentos,” “construções põe em risco”, “ele tinha pagado”. Está mal, não? (João Manoel Moreira)

Como o jornalista escreve? A resposta é uma só — com pressa e sob pressão. Muitas vezes não tem tempo de reler o texto. O resultado são falhas de gente distraída. Falsicação aparece no lugar de falsificação. “Construções põe em risco título de patrimônio histórico”, pisa a concordância. Bobeira, não? O verbo está pertinho do sujeito. Difícil errar em tal situação. Faltou releitura. * A língua, generosa, sabe que os falantes são diferentes. Uns jogam no time dos econômicos. Esbanjam sílabas. Outros, no dos econômicos. Poupam letras. O verbo pagar satisfaz a uns e a outros. Como? Tem dois particípios — pago e pagado. A regra manda usar pagado com os auxiliares ter e haver. Pago, com ser e estar.

É aí que entra a generosidade do português. Pagar, como ganhar e pegar, permite o emprego da forma reduzida com ter e haver: tinha (havia) pago ou pagado, tinha (havia) ganho ou ganhado; tinha (havia) pego ou pegado.

Você, Manoel, prefere pago. É preferência, não obrigação. Palmas pra você. Palmas pro repórter.