Errar é humano? É. Errando se aprende. “Erre mais, erre melhor”, insistia o teatrólogo Samuel Becket. A coluna obedeceu ao conselho. Na quarta-feira, apresentou uma relação de 35 tropeços usuais no dia a dia de gente como a gente. Leitores acharam pouco. Encaminharam mais. Com a explicação: “Os jornais publicam o jogo dos sete erros. Dispensemos o jogo. Fiquemos com os deslizes”. Palpite aceito. Eis as observações com os respectivos comentários:
Wagner Carlos preocupou-se com a regência verbal. Lembrou preferir. O trissílabo é pra lá de maltratado. Nove entre 10 falantes tropeçam na elitista criatura. “A pessoa prefere uma coisa a outra”, ensina o atento leitor. “A moçada prefere uma coisa do que outra. Valha-nos, Deus!” É isso. Em construções como essa, a preposição a pede passagem. Mais exemplos? Ei-los: Prefiro cinema a teatro. Preferiu sair a ficar em casa. Preferimos morar em apartamento a morar em casa.
Não só. Muitos abusam. Além da trombada na regência, acrescentam intensificador desnecessário. É o tal “prefiro mais”. Trata-se de senhora redundância. Preferir pressupõe o mais. Xô!
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João Maria Moreira escreve: “Uma mania que se instalou na nossa língua é o que chamo de sujeito duplo. Exemplos: `O ex-vice-presidente José Alencar, ele morreu na semana passada´, `O governador do DF, ele tomou posse há apenas três meses´. O correto é simplesmente: O ex-vice- presidente José Alencar morreu na semana passada. O governador do DF tomou posse há apenas três meses.
Ufa! Falou e disse.
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Alda Pirfo comenta: “Sei que grato, agradecido e obrigado se flexionam como qualquer adjetivo. No feminino singular, grata, agradecida, obrigada. No masculino singular, grato, agradecido, obrigado. Muitos, porém, insistem em empregar apenas o masculino independentemente do sujeito. Que coisa! Será que mudaram as regras e ninguém me avisou?”
Claro que não, Alda. Você está pra lá de certa. Ela diz grata, agradecida, obrigada. Ele, grato, agradecido, obrigado. Elas, gratas, agradecidas, obrigadas. Eles, gratos, agradecidos, obrigados. Todos respondem “por nada”.
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Sérgio Magalhães observa: “Palavras bem pronunciadas soam como música. Agradam ao ouvido, bajulam a mente e acariciam o coração. Há algumas semanas, ao ler a coluna que tratou do assunto, lamentei não ter encontrado referência a pneu. Tenho curiosidade de saber por que o vocábulo é pronunciado peneu por muitos repórteres ligados ao mundo automobilístico e por boa parte da população”.
Sérgio, é estranho ao português pronunciar o p, o b, o d desacompanhados de vogal. Por isso também se brindam outras palavras com som indesejado. É o caso de “pisicologia”, “adivogado”, “subistantivo”, “adijetivo” e tantos outros.
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Adriano Queiroz: “A placa é lei. Está em todos os andares de todos os prédios de todos os estados brasileiros. `Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar´, diz o texto pra lá de torturado. Além de outros, um erro me chama a atenção. Trata-se do emprego de o mesmo. Ele não pode substituir o pronome pessoal na função de sujeito. O vício aparece em frases como `eu chamei José, mas o mesmo nem olhou´. Que chato! Que tal dar a César o que é de César? Eu chamei José, mas ele nem olhou.
E a placa do elevador? Os gaúchos recorreram à Justiça para mudar o texto. Conseguiram. Eis a forma: Antes de entrar, verifique se o elevador está neste andar. Que tal? Além de correta, é mais curta e mais fácil. Palmas pra ela.
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Antônio Menezes não se conforma com erros primários que encontra em jornais e revistas. Ao vê-los, não deixa por menos. Protesta. Escreve cartas e manda e-mails. Um dos mais recentes tropeços trata da confusão de palavras que soam do mesmo jeitinho, mas se grafam de forma diferente. Vale o exemplo por ele destacado: “A sessão de servidores para organizações”. “Ora”, escreve ele, “o substantivo derivado de ceder é cessão. Bastava o redator parar e pensar. Não o fez. Deu no que deu.”
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Josemar Dias reclama das redundâncias. Dia após dia, elas pululam no jornal, na internet ou na tevê. É o caso de há anos atrás, panorama geral, elo de ligação, jantar à noite, a cada dia que passa. Ele explica: “Todo panorama é geral, todo elo é de ligação, todo jantar é à noite, todo dia passa. Melhor desbastar os excessos: panorama, elo, jantar, a cada dia dão o recado. Mais: há e atrás falam de tempo passado. É melhor descer do muro e ficar com um ou outro: Chegou a Brasília há anos. Anos atrás chegou a Brasília.”