Infinito é duração

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DAD SQUARISI // dadsquarisi.df@diariosassociados.com.br

A estatística não é nova. Morre mais gente picada de abelha que em acidente de avião. Mas tragédias aéreas sempre chocam. Ficamos perplexos com a queda do Airbus da Gol que roubou 154 vidas. O saldo da trombada da aeronave da TAM em Congonhas nos deixou estarrecidos. Nada menos que 199 mortos. O sumiço de 228 pessoas no aparelho da Air France não foge à regra. O noticiário sobre a fatalidade mobiliza a população. Todos se interessam por pormenores técnicos, história dos passageiros, membros da tripulação, circunstâncias do desastre, reação dos familiares, comentário dos amigos, solidariedade de desconhecidos.

Não é a perda de vidas que estarrece. A morte está no script humano como respirar, comer e dormir. O que aterroriza é a quantidade de vítimas e a impotência diante da catástrofe. Centenas de pessoas partem juntas ao mesmo tempo. Nenhum poder consegue alterar os fatos. O nunca mais ganha corpo. Promessas se vão sem aviso prévio. Em segundos, mães, filhos, avós, maridos, mulheres, chefes, colegas viram cinza. Acabaram? Boa parte das culturas responde que não. Eles permanecem na memória. Enquanto for lembrada, a pessoa não morre. Só o esquecimento total mata.

Daí se chamar os acadêmicos de imortais. Machado, Eça, Graciliano, Guimarães, Clarice foram pra baixo da terra há séculos ou décadas. Mas as obras os mantêm presentes. Pela mesma razão Villa-Lobos, Chopin, Wagner, Sílvio Barbato, Carmem Miranda, Glauber Rocha, Dias Gomes estão entre nós. Jesus, Buda, Maomé também vivem. A milenar sabedoria oriental cultua os antepassados como forma de conservar-lhes a chama da permanência. Os chineses acreditam que a pessoa justifica a passagem pela Terra se tiver um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. Com a doação, as gerações futuras as segurarão por aqui. Em suma: como o amor de Vinicius, a pessoa é infinita enquanto dura.

(artigo publicado em Opinião do Correio Braziliense)