No século 13, quando a língua portuguesa engatinhava, travou-se batalha sangrenta. Oxítonas e paroxítonas se enfrentaram. Briga feia. Não faltaram palavrões, unhadas e pontapés. Resultado: entre ambas criou-se inimizade eterna. Saíram séculos, entraram séculos, nada mudou. Até hoje elas não podem nem se olhar. O que uma faz não passa pela cabeça da outra imitar. A acentuação gráfica serve de exemplo. Se uma leva o sinalzinho, a outra não levará. Quer ver?
- São acentuadas as oxítonas terminadas em em e ens: armazém, armazéns; refém, reféns; vintém, vinténs; desdém, desdéns; porém, parabéns.
- As paroxítonas com as mesmas terminações passam longe do acento: homem, homens; nuvem, nuvens; item, itens; jovem, jovens; batem, vendem, contem.
E hífen? É paroxítona terminada em en. Em português, há poucas palavras nesse time (líquen, éden, abdômen, gérmen). O singular não coincide com as oxítonas. Daí o acento. No plural, a coisa muda de figura. As oxítonas terminadas em ens são acentuadas (armazéns, parabéns). As paroxítonas não (hifens, edens, liquens, abdomens, germens).
Dois duros não fazem bom muro, diz o velho ditado mineiro. Na guerra das palavras, oxítonas e paroxítonas não cedem jamais. São duas retas que nunca se encontram.