Nove em cada 10 brasileiros usam o Whats App. Dar uma olhadinha na tela do celular tornou-se mais que obrigação. Virou vício. O aplicativo pra lá de acessível deixou o telefone pra trás. Antes, ligar pra alguém era tão natural quanto andar pra frente. Hoje o fazemos com cerimônia. Há quem peça autorização prévia. Quem diria!
A popularização do zap acarretou consequências. Perda de limites foi uma delas. A questão: sem regras ou freios, pode-se deitar e rolar no envio de mensagens, vídeos e fotos? A resposta é não. Nossa liberdade acaba no receptor. Muitos usam o WhatsApp para fins profissionais. Muitos participam de vários grupos. Muitos não têm tempo pra ler tudo. E daí? Deixe o bom senso falar. Siga as cinco dicas apresentadas a seguir. O prêmio: ser lido.
Não abuse
Excessos são proibidos. Não entupa a memória do celular dos outros com borbotões de mensagens, vídeos e fotos. Seja comedido.
Selecione
Olho na oportunidade. Escolha. Não mande qualquer coisa, sem considerar o interesse do receptor.
Seja breve
Vamos combinar? Você não lê textos enormes, que ocupam telas e telas do celular. Ninguém lê. Mensagens curtas e personalizadas são pra lá de bem-vindas.
Respeite o grupo
Correntes que prometem mundos e fundos dão canseira. Bate-papos particulares também. Poupe o grupo. Se você conhece alguém interessado no assunto, mande-lhe um zap particular. Todos agradecem.
Siga as regras de ouro
Ao escrever, lembre-se: 24 horas é pouco pra quem tem o mundo na palma da mão e precisa dar conta da correria do dia a dia. Que tal dar-lhe a chance de ler o recado que você considera importante? Siga as duas regras de ouro. Uma: menor é melhor. A outra: menos é mais.
Menor é melhor
Como dizer tudo com economia de espaço? A língua é generosa. Oferece os recursos de que precisamos. Basta conhecê-los, deixar a preguiça pra lá e mãos à obra. É simples como tirar a chupeta do bebê.
Use palavras curtas
Só ou somente? Só
Colocar ou pôr? Pôr.
Obviamente ou é claro? É claro.
Morosidade ou lentidão? Lentidão.
Matrimônio ou casamento? Casamento.
Féretro ou caixão? Caixão.
Óbito ou morte? Morte.
Falecer ou morrer? Morrer.
Ósculo ou beijo? Beijo.
Causídico ou advogado? Advogado.
Esposo e esposa ou marido e mulher? Marido e mulher.
Genitor e genitora ou pai e mãe? Pai e mãe.
Data natalícia ou aniversário? Aniversário.
Viu? Palavras longas e pomposas funcionam como cortina de fumaça entre quem escreve e quem lê. Poupar sílabas, ser simples e apostar na naturalidade é a melhor receita.
Recorra às siglas
Siglas são pra lá de bem-vindas. Com poucas letras, reduzem nomes enormes. Oba! Elas poupam sílabas e abrem espaço pra mais informação:
CIEE – Centro de Integração Empresa-Escola
Fiesp – Federação das Indústrias do estado de São Paulo
MEC – Ministério da Educação
BB – Banco do Brasil
ONU – Organização das Nações Unidas
OEA – Organização dos Estados Americanos
PM – Polícia Militar
UTI – unidade de terapia intensiva
Apele para as abreviaturas
Abreviatura tem família. Pertence ao clã dos breves. As rapidinhas fazem bonito no mundo apressado em que vivemos: dizem o que precisam dizer com economia de tempo, espaço e paciência do leitor:
sr., srª — senhor, senhora
prof., profª – professor, professora
dr., drª – doutor, doutora
- – apartamento
- ou pág. – página
séc. — século
Ora veja! A web é permissiva. Aceita abreviaturas não autorizadas pela gramática. Mas, se todos as entendem, nas mensagens eletrônicas ganham banda de música e tapete vermelho:
vc – você
tb – também
q – que
qq — qualquer
Troque códigos
Vale tudo na guerra contra o desperdício. A tela do celular é pequena demais para comportar a mensagem. Às vezes, vale a pena usar códigos diferentes para dar o recado:
= — igual
+ — mais
$ — dinheiro
% — percentagem
Peça ajuda aos sinais de pontuação
? – O quê? Não entendi.
! – Nossa! Estou admirado.
Opte pela voz ativa
A voz ativa tem três vantagens. Uma: é mais curta. Outra: dispensa o verbo ser (uma praga). A última: soa mais direta, vigorosa e concisa que a passiva. Compare:
Voz ativa: O estudante escreveu a redação.
Voz passiva: A redação foi escrita pelo estudante.
Menos é mais
Ser conciso é dizer o que tem de ser dito com o mínimo de palavras. Não significa privar o leitor de informação. Mas dar a informação no tamanho certo. Sem mais nem menos. Como?
Corte palavras desnecessárias
Artigo indefinido: O diretor deu (uma) entrevista ao jornal.
Pronome possessivo: No (seu) discurso, o acadêmico disse verdades.
Vocábulos e expressões. Decisão tomada no âmbito da diretoria? É decisão da diretoria. Trabalho de natureza temporária? É trabalho temporário. Lei de alcance federal? É lei federal. Casos de ocorrência? É ocorrência. Curso em nível de pós-graduação? É pós-graduação. Ou pós.
Troque seis por meia dúzia
- Dispense, nas datas, os substantivos dia, mês e ano: em 7 de julho (não: no dia 7 de julho), em maio (não: no mês de maio), em 2018 (não: no ano de 2018).
- Substitua a oração adjetiva pelo adjetivo: material de guerra (material bélico), pessoa sem discrição (pessoa indiscreta), criança sem educação (criança mal-educada).
- Troque a oração adjetiva pelo nome: homem que planta café (cafeicultor), criança que não sabe ler nem escrever (criança analfabeta), pessoa que não come carne (vegetariana).
- Reduza o tamanho das frases: Vai qualificar-se melhor fazendo um curso de pós-graduação. (Vai qualificar-se melhor. Fará pós.)
- Use verbo em vez de expressão: Fazer uma viagem (viajar). Pôr as ideias em ordem (ordenar as ideias). Pôr moedas em circulação (emitir moedas).
Moral da história
Nas mensagens do WhatsApp, você não precisa inventar nada. Mais flexível que cintura de político, a língua tem mais de 500 mil palavras e múltiplos jeitinhos de dizer para satisfazer as urgências. Respeitar as regras de ouro tem reflexo plural. Além de escrever mensagens mais sedutoras, você melhora os demais textos. Vá em frente. Vale a pena.