Luíza vai publicar um livro de crônicas. Ao revisar os textos, pintou a dúvida sobre o emprego dos demonstrativos. Ela explica: “Gostaria de ver a explicação sobre o uso de este e esse, que provavelmente esclarecerá também o deste e desse. Estou tão insegura que troco seis por meia dúzia. Substituo os termos. Mas quero aprender. Pode ajudar?”
A dúvida não é só da Luíza. Jornalistas, professores, estudantes, advogados, todos se confundem na hora de empregar os demonstrativos. Ariscos, os pronomes não se deixam captar. Quando usar um? Quando é a vez do outro? O papel deles é bem definido — indicam situação no espaço, situação no tempo e situação no texto. Que tal jogar luz o tema? Vamos lá.
Pessoas do discurso
Para dominar os demonstrativos, lembremos as pessoas do discurso. Discurso, aí, significa conversa. As pessoas do discurso são as que tomam parte em um bate-papo. Para haver diálogo, são necessárias três pessoas. Algumas interessantes, outras nem tanto. Uma fala (1ª pessoa), outra escuta (2ª pessoa) e o assunto, que é a pessoa de que se fala (3ª).
Imagine que Rafael telefone para João e lhe pergunte se vai ao cinema. No caso, Rafael fala. É a 1ª pessoa. João escuta. É a 2ª. Do que eles falam? Da ida ao cinema. É a 3ª.
Situação no espaço
Este — diz que o objeto está perto da pessoa que fala (eu, nós). Pode ser reforçado pelo advérbio aqui: esta sala (a sala onde a pessoa que fala ou escreve está); esta revista aqui (a revista que tenho em mão). Esta carta (a carta que está comigo).
Esse — diz que o objeto está perto da pessoa com quem se fala (você, tu). Pode ser acompanhado pelo advérbio aí: essa sala (a sala onde está a pessoa com quem falamos ou a quem escrevemos), esse livro aí (o livro está perto da pessoa com quem falamos), essa instituição (a instituição em que o leitor está).
Aquele — diz que o objeto está longe da pessoa que fala e da pessoa com quem se fala: aquele quadro lá (o quadro está longe das duas pessoas), aquele cartaz, aquela torre.
Situação no tempo
Este — indica tempo presente: esta semana (a semana em curso), este mês (mês em curso), este ano (ano em curso).
Esse / aquele — exprime tempo passado (esse: passado próximo; aquele: passado remoto): Estive em Granada em 1992. Nesse (naquele) ano, visitei toda a Andaluzia.
Eis um nó. Como saber se o passado é próximo ou remoto? Depende de cada um. O tempo é psicológico. Uma hora com dor de dente é uma eternidade. Com o amado, voa.
Situação no texto
Quem escreve enfrenta desafios. Um deles: situar o leitor. Dizer-lhe se a pessoa, o fato ou a frase foi referida no texto. Ou, ao contrário, vai ser referida. É o 3º emprego do demonstrativo. E, cá entre nós, o que oferece mais dificuldade. Mas, bem entendido, torna-se fácil como tirar pirulito de criança.
Este — olha pra frente. Anuncia o que será referido em seguida:
Fernando Pessoa escreveu este verso: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
Reparou? O verso é anunciado: “escreveu este verso”. Depois, expresso: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
Esse — olha pra trás. O fato é referido antes; depois, retomado:
“Tudo vale a pena se a alma não é pequena.” Esse verso figura no livro Mensagem, de Fernando Pessoa.
Iguaizinhas
As mesmas regras valem para o isto, isso, aquilo e as combinações de preposição com os pronomes (deste, neste, disto, nisto, disso, nisso, daquilo, daquele, naquele, naquilo).