Este, esse ou aquele?

Publicado em português

Cada dia com sua agonia. Surpresas pululam no Ministério Público, na Justiça, na polícia, no Congresso, nas ruas. Em meio ao turbilhão de delações, um denominador comum sobressai. É o dedo em riste. Acusa-se este. Denuncia-se aquele. Entram em cartaz, então, os pronomes demonstrativos. Este, esse ou aquele? Depende.

O trio dá nó em fumaça. Arisco, não se deixa captar com facilidade. Quando empregar um? Quando é a vez do outro? Por sorte, o papel deles é bem definido. Eles são parecidos, mas não iguais. Versáteis, têm três empregos.

 

Pessoas do discurso

Pra entender o primeiro emprego, lembre-se das pessoas do discurso. Discurso, aí, significa conversa. Quem toma parte de um bate-papo? Três seres. Alguns interessantes, outros nem tanto. Quem são eles? Uma fala (1ª pessoa), uma escuta (2ª pessoa) e o assunto, que é a pessoa de que se fala (3ª).

Imagine que Michel telefone para Rodrigo e lhe pergunte se viu o vandalismo na Esplanada. No caso, Michel fala. É a 1ª pessoa. Rodrigo escuta. É a 2ª. Do que eles falam? Do vandalismo na Esplanada. É a 3ª.

 

  1. Situação no espaço

Os demonstrativos se prestam a papel pra lá de importante. Indicam se o ser está perto da 1ª, 2ª ou longe de ambas. Veja:

Este: diz que o objeto está perto da pessoa que fala (eu, nós): esta sala, este livro, este celular (a sala, o livro e o celular estão perto da pessoa que fala ou escreve).

Esse: informa que o objeto está perto da pessoa com quem se fala (você, tu): essa sala (a sala onde está a pessoa com quem falamos ou a quem escrevemos), esse livro (o livro está perto da pessoa), essa instituição (a instituição em que o leitor está).

Aquele: diz que o objeto está longe da pessoa que fala e da pessoa com quem se fala: aquele quadro (o quadro está longe das duas pessoas), aquele cartaz, aquela torre.

 

2. Situação no tempo

Este: tempo presente: esta semana (a semana em curso), este mês (maio, mês em curso), este ano (2017, ano em curso)

Esse / aquele: tempo passado (esse: passado próximo; aquele: passado remoto): Estive em Nova York em 1992. Nesse (naquele) ano, conheci os museus da cidade.

 

Nó nos miolos

Como saber se o passado é próximo ou remoto? Depende de cada um. O tempo é psicológico. Uma hora com dor de dente é uma eternidade. Se for à noite, nem se fala. São duas eternidades.

 

3. Situação no texto

Eta emprego ardiloso! Pra desviar-se da cilada, lembre-se de pormenor pra lá de importante. Texto, no caso, significa mensagem escrita ou falada. A palavra ou frase foi referida? Então é a vez do esse. Será referida? O este pede passagem. Veja as manhas:

Este: exprime referência posterior (anuncia-se o fato que será referido depois): O ministro disse esta frase: “O vandalismo na Esplanada foi ato de insensatez”.

Reparou? A frase é anunciada: “disse esta frase”. Depois, expressa: “O vandalismo na Esplanada foi ato de insensatez”.

Outro exemplo: Mia Couto fez esta pergunta: “Qual a saudação mais demorada? (a pergunta é anunciada: “fez esta pergunta”, depois, formulada).

Esse: referência posterior (o fato é referido antes; depois, retomado): “Nada demora mais que as cortesias africanas. Saúdam-se os presentes, os idos, os chegados. Para que nunca haja ausentes”. Essa resposta foi dada pelo escritor moçambicano Mia Couto.

 

Superdica

Ao indicar situação no texto, siga este conselho. Na dúvida, use esse. Você tem 90% de chance de acertar.