A que horas vai ao ar o Programa do Jô? Ninguém sabe. Anos atrás, tinha horário certo — às 23h30. De uns tempos pra cá, foi empurrado para as altas horas. Pode ser à 1h, às 2h, às 2h15. A única referência é esta — depois do Jornal da Globo. Muita gente se cansa de esperar. Pra manter a audiência, o Gordo aparece no meio do telejornal e anuncia as atrações que aguardam o telespectador. Outro dia, deu este recado: “Não vá pra cama sem…” Ops! A dúvida bateu. “Sem mim? Sem eu?” “Sem nós”, socorreu Derico.
O músico da banda que o acompanha desde sempre quebrou o galho. Mas a pergunta ficou no ar. Mim ou eu? A resposta remete à velha doença do pronome eu. Ele é alérgico a qualquer preposição. Antecedido pela indesejada, fica cheio de brotoejas. Melhor prevenir. Assim: Não vá pra cama sem mim. Gosta de mim. Falou para mim. Deu um beijo em mim.
Por falar em mim…
Acordo feito entre eu e o diretor? Acordo feito entre o diretor e eu? Acordo feito entre mim e o diretor? Acordo feito entre o diretor e mim? Faça a sua aposta. Escolheu a terceira opção? Acertou. O porquê: entre é preposição. O eu, devidamente prevenido, fica longe de tão indesejável ser. O pronome, então, não pode ser outro. É mim.
Surge outra enrascada — a colocação do mim. Por que o monossílabo vem antes de diretor? Vale lembrar ensinamento da vovó. “O eu é como o burrinho”, repetia a senhora pra lá de sabida, “vem sempre na frente.” Dita de outro jeito, a lição traz à luz a prioridade das pessoas do discurso. A primeira pessoa (eu) é a mais importante. Depois, vem a segunda (tu). Por fim, a terceira (ele, ela).
A concordância
A prioridade das pessoas do discurso tem tudo a ver com a concordância. Assim:
1ª pessoa + qualquer outra = nós
Eu e tu vamos ao cinema. Eu e ele vamos ao cinema.
2ª pessoa + 3ª = vós
Tu e ele estudais. Como caiu de moda, o vós soa estranho. Dá passagem, então, ao eles: Tu e ele estudam.
3ª pessoa + 3ª = eles
Paulo e Luís saíram.