Enquanto isso…

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Maya Leão anda às voltas com um modismo. É o emprego do enquanto. Sem mais nem menos, a conjunção ficou atrevida. Usurpa o lugar de outras palavras.E o mau uso se espalha como praga.
Ela cita exemplos: “Outro dia,o padre disse na missa: `Jesus,enquanto humano, deu provas de amor aos homens´. Os jornais publicam a torto e a direito: ‘Maria, enquanto cozinheira’ ‘os professores, enquanto educadores’, ‘os jornalistas, enquanto formadores de opinião’ E por aí vai. Qual é a da fora-da-lei?
A conjunção enquanto liga orações (verbo com verbo). Indica que duas ações se passam ao mesmo tempo: Enquanto eufalo, você escuta. Você trabalhava enquanto ela ouvia música.
Com o emprego descuidado, a coitada vira usurpadora. Ocupa o lugar do ‘como’ ou das locuções ‘na condição de’, ‘na qualidade de’.É um horror. Maltrata a língua, fere os ouvidos, machuca osolhos. Deus nos proteja.
O padre iria direto pro céu se dissesse: “Jesus, na condiçãode humano, deu provas de amor aos homens”. Os jornais informariam melhor se escrevessem: “Maria, como cozinheira…”, “os professores, na qualidade de educadores…”, “os jornalistas, como formadores de opinião…”
Etc. e tal.
Atenção, gente fina. As orações ligadas por enquanto têm que ter o mesmo tempo verbal. É aquela regra. Lé com lé, cré com cré. Cada sapato no seu pé:
presente com presente: Enquanto eu dito, você escreve.
passado com passado: Enquanto Carlinhos Brown cantava, o público jogava garrafas.
Não bobeie. Ao menor descuido, você pode misturar, por exemplo, o pretérito perfeito como imperfeito. Assim:
Enquanto Sandy cantava, a plateia delirou.
Cruzes! Lé não combina com cré. Juntando os pares, fica assim: Enquanto Sandy cantava, a plateia delirava. Enquanto Sandy cantou, a plateia delirou.
Mais uma. Cuidado com apontuação. Se a oração iniciada por enquanto vem na frente,separe-a por vírgula. Se depois,deixe-a soltinha da silva: Enquanto eu ouço o disco,você lê o artigo.
Você lê o artigo enquanto eu ouço o disco.