Há quem divida os filhos de Deus em duas raças distintas. Uma: os que pedem emprestado. A outra: os que emprestam. Daí o destaque do verbo emprestar. Pensadores de Europa, França e Bahia falaram sobre ele. Alexandre Dumas Filho aconselhou: “Dê dinheiro, não empreste. Dar só faz ingratos. Emprestar faz inimigos”. Shakespeare disse amém: “Não tomes por empréstimo e tampouco emprestes. O empréstimo nos faz perder dinheiro e amigo”. Simões Lopes Neto foi categórico: “Mulher, arma e cavalo de andar, nada de emprestar”. O povo, generoso, ensina: “Quem dá aos pobres empresta a Deus”.
É tanto emprestar e pedir emprestado, que o verbo provoca confusões e bate-bocas. Vale o exemplo de Cauã Souza. Ele trabalha na administração pública. Zeloso do bom português, discutiu com colegas a regência de emprestar. Eles fazem empréstimos bancários. Ao comentar o fato, dizem “emprestei dinheiro do banco”. O pobre amante da língua se desespera. Esperneia. Discute. A questão: o trissílabo pode ser empregado para quem cede e para quem recebe os valiosos reais? Não.
Toma lá, dá cá
Quer acertar sempre? Então entre no time dos que dividem a espécie humana em duas raças — os que pedem emprestado e os que emprestam. Em outras palavras: só empresta quem cede. A pessoa beneficiada com o empréstimo pede, toma ou pega emprestado. Compare:
O banco emprestou R$ 3 mil a João.
João tomou emprestados R$ 3 mil ao banco.
Carlos emprestou o lápis ao colega.
O colega pegou emprestado o lápis a Carlos.
O diretor me emprestou R$ 100.
Pedi R$ 100 emprestados ao diretor.
Superdica
A gente toma (pede, pega) emprestada alguma coisa a alguém (o “de” alguém pode gerar ambiguidade). Compare:
Pedi emprestado o carro a meu pai. (Meu pai é a pessoa a quem pedi o carro.)
Pedi emprestado o carro do meu pai. (No caso, o carro é do pai.)
Tomou emprestados os livros ao professor. (O professor emprestou os livros.)
Tomou emprestados os livros do professor. (O professor é o dono dos livros.)