Dia sim, outro também, brasileiros ficam às escuras. Os apagões fazem estragos. Portões deixam os moradores presos. Freezers relaxam. Aparelhos eletroeletrônicos cruzam os braços. Chuveiros entregam água fria. A novelinha? Já era.
E daí? As distribuidoras de energia dizem que estão duras. Não têm dinheiro pra investir no setor. O governo decidiu dar um jeitinho. Obrigou a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica a fazer empréstimo de US$ 11 bilhões. A Câmara disse não. Três chefões pediram as contas, bateram asas e voaram.
Ficou no ar a regência do verbo emprestar. Ele é pra lá de cuidadoso. Só aceita a acepção ceder por empréstimo. Assim: Paulo emprestou a bicicleta ao amigo. (Ele cedeu a bicicleta por empréstimo ao amigo.) O banco empresta dinheiro ao correntista. (Cedeu dinheiro por empréstimo ao correntista.) A biblioteca empresta livros ao público. (Cede livros por empréstimo ao público.) Ninguém empresta escova de dentes.
Outra história
A história tem dois lados. Um empresta. Passa pra frente o que tem e o recebe de volta. É o tal do V V — vai e volta. E quem quer alguma coisa por empréstimo? Precisa se virar. Tem de recorrer a verbos auxiliares. É o caso de pedir, pegar, conseguir, tomar: Ele pediu emprestada a bicicleta de Paulo. Tomou emprestado dinheiro do banco. Conseguiu emprestados agasalhos de colegas. Pegou emprestados livros da biblioteca.
Resumo da ópera: quem tem empresta. Quem não tem precisa de ajuda. Recorre, então, a verbos auxiliares. Pede emprestado. Ou toma emprestado. Ou consegue emprestado. Ou pega emprestado.
Concordância
Olho vivo, marinheiro distraído. Emprestado varia. Concorda em gênero e número com o termo a que se refere: Pediu emprestado o livro do colega. Pediu emprestados os livros do colega. Pediu emprestada a bicicleta do amigo. Pediu emprestadas as bicicletas do amigo. Conseguiu emprestada a mochila do irmão. Pegou emprestadas moedas da lanchonete.