“Entre todos os homens, o romancista é o que mais se assemelha a Deus: ele copia Deus.”
François Mauriac
Verbo, o senhor da fala
57 — verbo vicário
Que tal meu lugar?
A religião fala em morte vicária. A língua, em termo vicário. Ambos têm dois pontos comuns. O primeiro: a substituição. A morte de Cristo substituiu a dos homens. O termo vicário toma o lugar de outro já citado. O segundo: o objetivo nobre. Jesus salvou os homens. O termo vicário evita repetição.
É o caso do pronome pessoal da 3ª pessoa. Ele e ela ocupam o lugar de um nome referido. Escrever a mesma palavra pertinho uma da outra? Valha-nos, Deus! A frase fica monótona. O vicarinho quebra o galho.
Aprecie:
Muitas pessoas têm triplo expediente. Vale o exemplo de Maria. Ela trabalha das 8h às 18h. Depois, estuda. (O ela evitou a repetição de Maria.)
Vi João Marcelo duas vezes. Na primeira, ele tinha 5 anos.
Sem caráter
Há homens sem caráter. E verbos também. O campeão da turma é o fazer. Num piscar de olhos, lá está ele no lugar de outro:
Os sem-terra ameaçavam invadir fazendas havia anos.
Finalmente o fizeram (= invadiram fazendas).
A frase jocosa atribuída a Jânio Quadros entrou no folclore. Nela, o bigodudo abusou do vicário:
– Por que o senhor renunciou?, perguntaram os repórteres.
– Fi-lo (renunciei) porque qui-lo (quis renunciar), respondeu o homem da vassourinha.
Mãos à obra
Aparece termo vicário na frase:
a. Fez mil coisas antes de viajar: pagou as contas, desligou a luz, despediu-se dos amigos.
b. Denise Abreu falou na venda da VarigLog por acaso? Não. Ela o fez depois de longa meditação.
A resposta? Na próxima coluna. Até lá.
Na semana passada, você assinalou a opção certinha da silva. É ela:
a. A compra foi pagada à vista.
b. A compra foi paga à vista.
Escolheu a letra b? Acertou em cheio. Vá em frente.
(Coluna publicada no caderno Gabarito, que circula às segundas-feiras no Correio Braziliense.)