Delicadezas à mão

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DAD SQUARISI // dadsquarisi.df@diariosassociados.com.br

Boris Casoy não sabia. Mas o áudio estava aberto. Como aconteceu com Rubem Ricupero, o comentário privado se tornou público. Na reportagem, garis desejaram feliz ano-novo aos brasileiros. “Dois lixeiros desejando felicidades do alto de suas vassouras, dois lixeiros, o mais baixo da escala do trabalho”, disse ele. A declaração repercutiu Brasil afora. O Correio ouviu os garis. Em reportagem publicada no domingo, uma representante da categoria disse se orgulhar da profissão. Mas reclamou do povo. “Ninguém dá bom-dia”, sintetizou.

Preconceito? É possível. Mas no gesto aparece marca dos dias de hoje — a falta de gentileza. O que é isso? A palavra tem sinônimos. Alguns a chamam de doçura. Outros, de civilidade e polidez. Agrado talvez. Ou mimo. Delicadeza também. Em todos os substantivos sobressai a generosidade, o olhar para o outro. São gestos capazes de tornar a vida do próximo mais doce. Melhor: estão ao alcance de ricos ou pobres.

O dia a dia abre-se em oportunidades de gentilezas. No elevador, quem estiver perto do painel aperta o número do andar do outro. Quem entrar dá bom-dia sorridente e sem vergonha. Na caminhada, põe focinheira no cachorro. No cinema, faz silêncio. No trânsito, dá passagem. No trabalho, serve um copo de água para o colega ou lhe traz um cafezinho. Se o barulho da festa do vizinho incomoda, não briga nem chama a polícia. Convida-se e usufrui da alegria.

Se o outro quer falar, ouve-o com os olhos e os ouvidos. Se vai mandar uma mensagem pro e-mail do amigo, seleciona-a como se fosse a última chance de se fazer ouvir. Se o interlocutor não lhe entendeu as palavras, assume a responsabilidade: “Que pena! Não me fiz entender. Vou explicar melhor”. Se o outro se atrasa, recebe-o com naturalidade. Se necessário, diz: “Eu também acabei de chegar”.

E, sobretudo, elogia. Segue o exemplo de Emanuel. A mulher disse-lhe que se sentia velha. Queria fazer uma plástica. Ele a olhou longa e amorosamente. Depois, respondeu: “Ainda bem que sou professor de história antiga. A cada dia que passa acho você mais linda”.É pouco? É. Não dá trabalho nem pesa no bolso. Mas faz um bemmmmmm.