Crase 7

Publicado em Crase, Geral

 
Demonstrativo, amor oculto
 
Na língua rolam muitas histórias de amor. Uma é velha conhecida nossa. Trata-se da paixão da preposição a pelo artigo a. Eles juntaram os trapinhos há tempo. Desde então, perderam a individualidade. Viraram à.

Outra é o da preposição com os demonstrativos. Tudo começou com o nascimento dos pronomes aquela e aquele. Eles têm irmãozinhos gêmeos – a e o. Um pode ocupar o lugar do outro sem alterar o sentido da frase:
 
Aquelas que preencherem o cupom concorreão aos prêmios.

As que preencherem o cupom concorrerão aos prêmios.

 
Quando vê o demonstrativo, a preposição não resiste. Sem preconceitos, amasia-se com ele. Nasce, então, a duplinha à que. Para chegar lá, percorre um trajeto. Ei-lo:


 
Sua proposta é anterior à proposta que chegou ontem.


Para não repetir o substantivo proposta, há uma saída. A gente o substitui pelo demonstrativo. Pode ser aquela ou a irmãozinha.


 
Sua proposta é anterior àquela que chegou ontem.

Sua proposta é anterior à que chegou ontem.


 
Sofisticado, não? Para não tropeçar, recorra ao velho macete. Substitua o substantivo feminino que aparece antes do a que por um masculino (qualquer um, não precisa ser sinônimo). Se no troca-troca der ao que, sinal de crase. Se der a que, não duvide. Só a preposição solteirinha tem vez:


Sua proposta é anterior à que chegou ontem.
(Seu projeto é anterior ao que chegou ontem.)


A proposta a que me referi não foi aceita.
(O projeto a que me referi não foi aceito.)


Houve uma sugestão posterior à que você apresentou.
(Houve um projeto posterior ao que você apresentou.)