Joaquim Barbosa e seu calcanhar de Aquiles. Certo? Nãooooooo

Publicado em português

Temperamento é calcanhar de Aquiles de Joaquim Barbosa”, escreveu a Folha de S.Paulo. Leitores leram e releram a frase. Respiraram fundo. Tentaram mudar de assunto. Em vão. Uma pulga teimava em lhes cutucar a orelha. A causa não tinha nada a ver com política. A razão do incômodo era linguística. Em bom português: o emprego da inicial maiúscula.  

Já era

A língua joga no time dos mutantes. Instrumento de comunicação das pessoas, muda conforme mudam os tempos e os falantes. Concordâncias, regências, colocações, significados trocam o passo conforme a música. A grafia não fica atrás. Maiúsculas e minúsculas servem de exemplo.

Nomes próprios

Os nomes próprios se escrevem com inicial grandona. É o caso de João, Maria, Aquiles, Pará, Colônia, Brasil. Às vezes, porém, eles entram na composição de substantivos comuns. O resultado é um só. Tornam-se vira-latas: joão-de-barro, castanha-do-pará, água-de-colônia, pau-brasil, banho-maria, maria vai com as outras, calcanhar de aquiles.

Disciplinas

Nome de disciplinas tem pedigree. Português, Inglês, Francês, Espanhol, quando matéria estudada na escola, ganham inicial grandona. As mesmas palavras, ao dar nome a idioma, perdem a majestade. Escrevem-se com a inicial pequenina: No Brasil, fala-se português. O português, o francês, o espanhol são línguas latinas. 

Pontos cardeais

Norte, Sul, Leste, Oeste, quando pontos cardeais, são nomes próprios. Mas, se definem direção ou limite geográfico, cessa tudo o que a musa antiga canta. As moçoilas entram na vala comum: O leste dos Estados Unidos tem grande influência latina. O carro avançava na direção sul. Cruzou o país de norte a sul, de leste a oeste. 

Moral da história

Na língua, quem foi rei perde a majestade sim, senhor. A Folha de S.Paulo teria merecido tapete vermelho e banda de música se tivesse homenageado os leitores com esta frase: Temperamento é calcanhar de aquiles de Joaquim Barbosa.