Foram necessários 18 meses para o presidente Bolsonaro se dar conta da maior tragédia nacional. “A educação está horrível”, avaliou ao responder à pergunta feita por apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada. Ele não especificou o que entende pelo adjetivo talvez por julgar desnecessário. A qualificação remete a horror, que sugere o superlativo péssimo.
O julgamento não é novo. Especialistas vêm batendo na mesma tecla há anos. Desde que o MEC introduziu a avaliação das diferentes fases da aprendizagem, ficou comprovado o que se observava empiricamente. O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) mostraram, em números, a dimensão da catástrofe.
Ponto nevrálgico: as crianças vão à escola, mas não aprendem. A quarta parte não se alfabetiza, a outra porção se alfabetiza mal. A exceção (10%) comprova a regra. Daí o efeito cascata. O ensino fundamental se compara aos alicerces do edifício. A base frágil compromete a totalidade da obra.Não por acaso, dos 5 milhões de matriculados no Enem 2019, só 53 tiraram nota 1000 na redação. No ano anterior, 55.
O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) desnuda, a cada aplicação, o fracasso em leitura, matemática e ciências. Na edição de 2018, entre 78 países, o Brasil repetiu o desempenho que se mantém há 10 anos. Figura entre os últimos do ranking. A conta vai sendo cobrada ao longo da vida escolar. A moeda: desestímulo, desinteresse, indisciplina, repetência, evasão.
Não por acaso, 1,7 milhão de jovens compõem a geração nem-nem (nem estuda nem trabalha) e apenas 16% dos moços frequentam a universidade. Nada menos de 84% se perderam no percurso.Há, pois, desafios a serem enfrentados para vislumbrar alguma luz no horizonte. Entre eles, sobressai a educação básica. A criança precisa ser capaz de ler e entender o que lê. A lei determina que, ao concluir o 2º ano, a alfabetização tem de ser etapa vencida. Não é.
O fracasso condena o país à pobreza, ao atraso e ao subdesenvolvimento.Os brasileiros, que foram às ruas em protesto pela democracia, pela decência e pelo fim da corrupção, precisam abraçar a bandeira da educação. Têm de deixar para trás o trágico jogo do faz de conta: a escola finge que ensina, o aluno finge que aprende, a sociedade finge que acredita. O “horrível”, fruto de décadas de descaso, não se improvisa. É resultado de longo cultivo.
(Editorial do Correio Braziliense de hoje)