Bolsonaro: acerto e erro no emprego do pronome este

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“Este momento não tem preço”, disse Bolsonaro ao começar o discurso no Congresso. Acertou. “Vamos restabelecer a ordem nesse país”, continuou ele. Bobeou. O presidente, como 99% dos brasileiros, tropeça nos pronomes demonstrativos. A razão: este, esse e aquele têm regras de emprego. Impõe-se saber se eles indicam situação no espaço, no tempo ou no texto.

 

1. Situação no espaço

Este indica que o objeto está perto da pessoa que fala (pode ser reforçado com o advérbio aqui): esta bolsa (aqui); este jornal (referindo-se ao jornal que está perto); esta sala (a sala onde a pessoa que fala ou escreve está).

Esse informa que o objeto está perto da pessoa com quem se fala (pode ser reforçado com o advérbio ): esse livro (o livro está perto da pessoa com quem se fala); essa sala (a sala onde a pessoa com quem se fala ou a quem se escreve está).

Aquele diz que o objeto está longe tanto da pessoa que fala quanto da pessoa com quem se fala (pode ser reforçado pelos advérbios ou ali): Aquele quadro lá; aquele livro ali.

Foi nesse emprego que Bolsonaro tropeçou. Ele está no Brasil. Deveria dizer “neste país”.

  

2. Situação no tempo

Este indica tempo presente: este ano, este mês, esta semana (o ano, o mês e a semana em que estamos); este fim de semana (o fim de semana próximo, que o falante considera presente).

Esse ou aquele exprimem tempo passado (esse, passado próximo; aquele, distante): Visitei Brasília pela primeira vez em 1970. Nesse (ou naquele) tempo eu morava em Porto Alegre.

 Aí, Bolsonaro tirou nota 10. “Este momento” indica tempo presente.

 

3. Situação no texto

 Este indica referência anterior: Paul Valèry deu esta sugestão aos escritores: “Entre duas palavras, escolha sempre a mais simples; entre duas palavras simples, escolha a mais curta” (a sugestão é anunciada antes e expressa depois).

Esse anuncia referência posterior: “Entre duas palavras, escolha sempre a mais simples; entre duas palavras simples, escolha a mais curta.” Essa sugestão, escrita por Paul Valèry no início do século, é um dos mandamentos do texto contemporâneo

  (As mesmas regras aplicam-se aos pronomes isto, isso, aquilo.)