Carla é linda. Loura, olhos azuis, peso de manequim, pernas longas, andar ondulado como as ondas do mar. Ela tem um sonho. Quer fazer televisão. Qualidades não lhe faltam. Submeteu-se a teste na Globo. Fotogênica, ultrapassou o primeiro obstáculo. Depois, veio a prova de locução. O texto era simples, mas cheio de ciladas. Numa, ela caiu como sereia:
— A entrada é gratuita.
A bela pôs um baita acento no i. Bobeou. Esqueceu-se de lição pra lá de repetida. Gratuito joga no time de circuito e fortuito. O ui forma ditongo. As duas letrinhas se pronunciam numa só emissão de voz. Ficam na mesma sílaba: gra-tui-to.
É isso. Beleza nem sempre põe mesa.