Autor: Dad Squarisi
“O Brasil, há um bom tempo, está mergulhado nos abismos de seu próprio inferno”, escrevemos na pág. 12. Reparou na redundância? Seu e próprio exercem a mesma função. Melhor economizar: O Brasil, há um bom tempo, está mergulhado nos abismos do próprio inferno.
“O Rio não é o estado pior classificado no tocante à violência”, disse o repórter. Telespectadores ouviram. Uiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! Sentiram forte pancada nos ouvidos. A razão: antes de particípio, melhor e pior não têm vez. Mais bem e mais mal pedem passagem: O Rio não é o estado mais mal classificado. João apresentou a redação mais bem redigida. Nós somos os mais bem vestidos do Brasil.
Você conhece algum fofoqueiro? Preste atenção à fala dele. Pra não ir pro xilindró, o amante da vida alheia se defende. Apela pra dois recursos da língua. Um: o futuro do pretérito. O outro: o dizem que. Com essas armas, ele solta o veneno. E safa-se de processo. A grande vítima é a verdade. Aprecie os diálogos: Maria — Sabe da última? Dizem que a […]
“As frases feitas são a companhia cooperativa do espírito. Dão o trabalho único de as meter na cabeça, guardá-las e aplicá-las oportunamente, sem dispensa de convicção, é claro, nem daquele fino sentimento de originalidade que faz um molambo seda.”
“É nas páginas de um livro que podemos viajar sem sair de casa e conhecer a alma humana.” O emprego do “é que” está correto? Está. A língua deu a vez a penetra pra lá de ousado. Trata-se da partícula é que. Expletiva, ela pode ser jogada fora. Exemplos não faltam: Onde (é que) você mora? Por que (é que) empresários envolvidos na Operação Lava-Jato […]
A crase é feminista. Excluindo-se o caso dos pronomes demonstrativos (aquele, aquilo), o sinalzinho grave só tem vez antes de palavra feminina, clara ou subentendida: Obedecemos à lei. Assisti à novela O outro lado do paraíso. O cão é fiel à dona. Fui à Editora Geração, não à (editora) José Olympio. Canta à (moda de) Caetano Veloso. Pintou a dúvida? Sem problema. Apele para o […]
“A presidente do Supremo não deu qualquer garantia de que vai pautar rediscussão da prisão em 2ª instância”, escrevemos na pág. 3. Ops! Em frases negativas, é a vez do nenhum, não do qualquer. Melhor: A presidente do Supremo não deu nenhuma garantia de que vai pautar rediscussão da prisão em 2ª instância.
O plural de ganha-pão? É ganha-pães. A dupla joga no time de guarda-roupas, beija-flores e lustra-móveis. Na composição de verbo mais substantivo, só o nome se flexiona. O companheiro fica no bem-bom.
O povo sabido diz que um é pouco, dois é bom, três é demais. Com a língua, a história muda de enredo. Um é suficiente. Por isso, não diga quantia de dinheiro. É redundância. Basta quantia.
As palavras gozam de plena liberdade. Passeiam na frase com desenvoltura. Às vezes, o sujeito aparece no início da oração. Outras, no meio. Aqui e ali, no fim. As voltinhas não se restringem ao sujeito. Boa parte dos termos lança mão do privilégio sem cerimônia. Mas o vai e vem tem limite. O freio tem tudo a ver com as exigências da clareza e da […]