Autor: Dad Squarisi
“A prisão dos amigos do presidente é uma situação em relação a qual ainda não temos o conhecimento específico”, escrevemos na pág. 2. Viu? Faltou o sinalzinho indicador de crase. Melhor dar a César o que é de César. Assim: A prisão dos amigos do presidente é uma situação em relação à qual ainda não temos o conhecimento específico.
A Polícia Federal deflagrou ontem a Operação Skala. Jornais, rádios, tevês, sites e blogues só falam no assunto. Ressaltam que a maior parte dos mandados de prisão temporária atinge amigos “pessoais” do presidente. Ops! Ganha um ovão de Páscoa quem tiver um amigo que não seja pessoal. Vale chutar? Talvez eles queiram dizer amigos íntimos do presidente. Ou amigos próximos.
O verbo mais usado nos últimos anos? É depor. De ontem pra hoje, com a prisão dos amigos do presidente, a coisa explodiu. É depor pra lá, depor pra cá, depor pracolá. Pinta, então, a dúvida. Qual a regência do dissílabo? Eis a resposta: ele exige a preposição em: Amigos íntimos de Michel Temer depõem na Polícia Federal. Alguns já depuseram em CPIs. Ontem Maria […]
Á é a primeira letra do alfabeto. Escreve-se assim, com acento. O plural é ás ou aa: Leu o texto de á a zê. Não disse nem á nem bê. Quantos ás tem o nome dele? Não sei ao certo. Mas são muitos aa.
A e lhe são pronomes pessoais do caso oblíquo. Quando empregar um e outro? Lhe tem duas funções. Uma: objeto indireto — complementa verbo transitivo indireto. É o caso de oferecer, agradecer, obedecer: Ofereci-lhe um cafezinho (a gente oferece alguma coisa a alguém). Agradeço-lhe o favor (a gente agradece alguma coisa a alguém). Obedecemos-lhe sem discussão (a gente obedece a alguém). A outra: funciona […]
Epa! O acento grave não deixa dúvidas. Trata-se da crase. A danada ocorre se dois aa se encontrarem. O casório se dá quando a preposição a encontra o artigo definido a, ou o demonstrativo a, ou o a inicial dos pronomes demonstrativos aquele, aquela, aquilo: O êxito é obstáculo à liberdade. Entreguei o relatório àquele homem. Feminista Excluindo-se o caso dos pronomes demonstrativos, só haverá […]
Roberto Neves vive com dor de ouvido. Compra que compra remédio pra otite. Mas os medicamentos estão pela hora da morte. E o dinheiro encurtou. “O problema”, diz ele, “não é da alçada do otorrino. Pertence ao universo da prosódia. Muita gente pronuncia o à como se fossem dois aa (vou a a praia). Pode estar certo. Mas maltrata os tímpanos”. São manhas da escola […]
A Laura é secretária de uma escola. Ela se preocupa com a grafia do nome das crianças. Observa acentos, esses e zês. “As certidões, diz ela, trazem o nome em letra maiúscula. Nem sempre devidamente acentuados. O que devo fazer?” Em português, as maiúsculas não gozam de privilégios. Têm o mesmo tratamento das minúsculas. Devem ser acentuadas quando necessário (Ásia, Índia). Pressupõe-se que os cartórios […]
Sobressair não é pronominal. Altivo, dispensa objeto. Reina sozinho, absoluto: O Ceará sobressai na educação. Bolssonaro sobressai nas pesquisas. Os povos da Mesopotâmia sobressaíram na escultura. O relator sobressaiu na discussão ao defender prisão dos suspeitos.
Que susto! Deu na TV: “Fiscais extorquiram delegada”. É difícil. Extorquir não é lá coisa boa. Significa obter por violência, ameaças ou ardis. O verbo tem uma manha. Seu objeto direto tem de ser coisa. Nunca pessoa. Extorque-se alguma coisa. Não alguém: Fiscais extorquiram dinheiro de delegada. A polícia tentou extorquir o segredo. Extorquiram a fórmula ao cientista.