Autor: Dad Squarisi
“Eu sou mais eu”, diz o verbo sobressair. Altivo, acredita que é melhor andar só que mal-acompanhado. Adora reinar sozinho na frase. Resultado: dispensa o objeto direto e o indireto. Não aceita jamais a companhia dos pronomes me, te, se, nos, vos. Dizer, por exemplo, o presidente “se sobressai” é a receita do cruz-credo. Pega mal como jogar papel na rua. Para sobressair, empregue […]
O moral? A moral? As duas palavras estão em todos os dicionários. Escrevem-se do mesmo jeitinho. Mas o gênero faz a diferença. Uma é macha. A outra, fêmea. Muita gente não sabe disso. Na maior ingenuidade, mistura alhos com bugalhos. O resultado é um só. Pensa que está dando um recado, dá outro. Pior: não dá recado nenhum. Deixa o leitor a ver navios. […]
Que susto! Deu na TV: “Fiscais extorquiam delegada”. É difícil. Extorquir não é coisa boa. Significa obter por violência, ameaças ou ardis. O verbo tem uma manha. Seu objeto direto tem de ser coisa, nunca pessoa. Extorque-se alguma coisa, não alguém: Fiscais extorquiam dinheiro de delegada. A polícia tentou extorquir o segredo. Extorquiram a fórmula ao cientista.
O sinalzinho da crase é ardiloso que só. Arma ciladas a torto e a direito. Às vezes, ataca o possessivo. Outras, os nomes próprios. Outras, ainda, o pronome que. No fundo, são fantasias para a mesma regra. Põe-se o acentinho grave no a quando dois aa se encontram. Hoje é vez de outra armadilha. Trata-se do relativo a qual. Ora o a […]
A polícia prendeu Paulo. O vizinho dele espalhou que o rapaz tinha caído nas mãos da PM porque era ladrão. Dias depois, o moço foi solto. A prisão tinha sido um engano. Sem perder tempo, o moço processou o linguarudo. O acusado disse ao juiz: — Foi um comentário. Comentários não causam mal. O magistrado ordenou: — Escreva os comentários […]
Wilson Ximenes escreve: “Matéria `Rodoviários fazem paralisação relâmpago em Ceilândia´, publicada no site do Correio Braziliense, às 9h31, informa: `A confusão começou depois que os trabalhadores receberam os contra-cheques´ “. Nada feito. O correto é contracheques, sem hífen.
“Os horários de cargas e descargas de veículos no Plano Piloto está reduzido”, escrevemos na pág. 36. Distração, não é? Com o sujeito longe, bobeamos. Esquecemos que o o verbo tem de concordar com ele. Melhor: Os horários de cargas e descargas de veículos no Plano Piloto estão reduzidos.
Agradar a gregos e troianos, eis a filosofia do verbo. Sempre que pode, o malandro joga nos dois times. Há casos complicados, em que os sujeitos exigem que o verbo concorde com eles. Ele, subserviente, cede. “Para que brigar?”, pensa o comodista. Afinal, a língua é um sistema de possibilidades. Na concordância, então, é um festival de vale-tudo. Ou quase […]