Amiga essencial

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Ter amigos é privilégio. Ter amigos essenciais é privilégio em dobro. Sou privilegiada ao quadrado. Tenho amigos essenciais. São aqueles que a gente pode passar anos sem ver. Quando os encontra, começa a conversa com “como estava dizendo…”

Sempre quis homenagear meus amigos essenciais. Como? Descobri a forma por acaso. Eles merecerão a dedicatória dos livros que escrevo. Therezamaria e Camélia foram as primeiras. A elas dedico o Redação para vestibulares e concursos — passo a passo. A Camélia me escreveu carta comovente. Divido-a com vocês.

Cara Dad (amiguirmã)   A homenagem estampada em livro é para mim significativa. Remete-me a tempos imemoriais. São mais de 40 anos de sólida e afetiva convivência. Lembro-me bem da primeira vez que Maria Lúcia e eu vimos Dad, a árabe puro sangue. Naquela época, Brasília era inóspita e estranha para todos nós. Tão estranha que nem passarinho nela havia e, imagina, senador e deputado eram figuras de alta respeitabilidade. Tivemos de imediato, na mesma origem e nos mesmos hábitos milenares, a identidade natural.   Ao longo do tempo pontilhamos nossas vidas de histórias em comum: o Colégio Rosário, a UnB, os almoços de sábado na casa do Lago Norte, os lanches  na  308 Sul e tantas  datas comemoradas juntas. Muitos domingos  eram   in torno de  la tavola para o quase habitual chá das cinco. Ah, havia também as delícias árabes – quem delas experimentou jamais esquece o  insuperável arroz com lentilhas preparado por você.   Tudo fluía. Tudo. Os laços estreitaram-se. Ampliaram-se nas famílias, ambas numerosas. Novos amigos vieram. Muitos ficaram pelo caminho já nem tão amigos assim. Outros permaneceram, como Therezamaria, a morena sestrosa da 202 Sul e o surpreendente Toninho que virou Tony, depois Dodo e agora Dodinho. Vi o Marcelo crescer, casar, ser pai. Vi você avó de dois netos lindos. Vc viu a Nina nascer, depois o Rique. Sempre presente. Presença certa , garantida. No riso e nas lágrimas.   Hoje, Brasília não é mais estranha e político virou… nem é preciso dizer o quê. Da minha janela vê-se bandos de periquitinhos em revoada. O tempo fez de mim  amiga bissexta, mas que diferença isso faz se agora, na maturidade, o que realmente importa é o definitivo?   Dad , cidadã do mundo, Rui Castro na Folha de hoje, 25, cita frase de Millor Fernandes, segundo quem “a vida é perto”. Talvez seja oportuno acrescentar que o longe também estimula o perto se acompanhado de intensas lembranças. Volto amanhã. Espero revê-la, em breve.      

Com carinho, Camélia  

(da crua e fascinante São Paulo — cidade em permanente catarse coletiva).