O mundo está cheinho de gente que quer passar pelo que não é. A língua também. Certas palavras se escrevem iguaizinhas a outras. Mas pertencem a classe gramatical diferente e têm significados diferentes. Como evitar a confusão? A criatividade correu solta. Inventa daqui, palpita dali, eureca! Decidiram pelo acento diferencial. Assim, ele pára, do verbo parar, teria o agudo para distingui-lo da preposição para (vou para São Paulo).
Eram poucos vocábulos. Minoria, todos sabem, não tem força. A reforma ortográfica veio e passou a tesoura em grampos e chapéus cuja função era distinguir palavras homógrafas – as que se escrevem do mesmo jeitinho, mas não têm parentesco nem distante. De agora em diante, polo, pera, pelo, pela, para se grafam sem distinção. Assim: Vou ao Polo Norte jogar partida de polo. O ônibus que vai para o Rio para aqui. O burro com pele de leão arrepiou o pelo dos bichos que passeavam pelo caminho do asno.
Atenção, muita atenção. Dois diferenciais permaneceram pra contar a história. Um: pôde, passado do verbo poder. Ele não quer confusão com pode, presente. O outro: pôr. O pequeno escapou porque é monossílabo. A reforma só atingiu as paroxítonas.