A frase tem três virtudes. A primeira: clareza. A segunda: clareza. A terceira: clareza. Montaigne deu essa lição há 400 anos. Até hoje as coisas não mudaram. A clareza ainda é a maior qualidade do texto. Por isso, todos que escrevem para ser entendidos não poupam esforços para chegar lá.
Há truques que facilitam a tarefa. Um deles: livrar-se do pronome possessivo de terceira pessoa. Seu e sua parecem inofensivos. Mas causam estragos. Um deles: tornam o enunciado ambíguo. Outro: sobram.
Quer ver? Leia esta frase:
Reinaldo encontrou-se com Marília Gabriela no aeroporto de Brasília. Durante o encontro, ele chegou a ensinar a ela a utilizar alguns recursos do seu celular.
De que celular? De Marília? De Reinaldo? Pode ser de uma ou de outro. O seu provocou a confusão. Xô!
Veja outro caso:
No seu pronunciamento em Londres, Lula criticou os Estados Unidos. Pegou mal.
Reparou? O seu não tem função. Sobra. Pau nele:
No pronunciamento em Londres, Lula criticou os Estados Unidos. Pegou mal.
Mais um caso:
No acidente, quebrou a sua perna direita, fraturou os seus dedos da mão esquerda, arranhou o seu rosto.
Cruz-credo! Rua! Antes das partes do corpo, o possessivo não tem vez. Sem ele, a frase respira aliviada:
No acidente, quebrou a perna direita, fraturou os dedos da mão esquerda, arranhou o rosto.
Você tem uma redação pertinho de você? Lei-a com cuidado. Circule os pronomes seu e sua. Agora, leia o texto sem os indesejados. Viu? Eles não fazem falta. Você pode muito bem viver sem eles.