50 erros que roubam vagas e prestígio

Publicado em português

Existem erros e erros. Alguns são primários. Estão na cara como batom vermelho ou óculos de grau. Grafar pesquisa com z ou exceção com ss serve de exemplo. Ambos denunciam pouca familiaridade com a língua escrita. Para se safar, conjugue três verbos – ler, ler, ler. E, sempre que a dúvida bater, consulte o dicionário. Generoso, ele diz como escrever a palavra.

Outros erros são sofisticados. Exigem algo mais do que uma espiadinha no injustamente chamado pai dos burros. (Ele é pai dos sabidos.) Tropeços em flexões, concordâncias, pontuação, regências, colocação de pronomes, coesão etc. e tal pedem estudo de morfologia, sintaxe e lógica. Se você der nota 10 para a frase “Na rua passava bicicletas”, abra os olhos. O sujeito arma ciladas. Posposto ao verbo, engana bem. Se ele aparecer na frente do verbo, a armadilha fica clara: Na rua, bicicletas passavam.

Um dos critérios na avaliação do candidato a emprego ou vaga na universidade é o domínio da norma culta. O examinador espera ler e ouvir uma língua correta. Correta não significa rebuscada ou exibida. Significa apenas o elementar respeito à gramática. Deslizes na pronúncia, nos plurais, na conjugação verbal não passam despercebidos. Ao contrário. Ecoam. Eis escorregões que você pode evitar:

a nível de – a forma é ao nível de (= à altura de): Recife fica ao nível do mar.

adéquo – adequar só se conjuga nas formas em que a sílaba tônica cai a partir do u: adequamos, adequais, adequei, adequarei. (Na dúvida, substitua-o por adaptar.)

adivogado – não acrescente sons em fim de sílabas: advogado (não: adivogado), optar (não: opitar), fez (não: feiz), beneficência, beneficente (não: beneficiência, beneficiente), absoluto (não: abisoluto), aficionado (não: aficcionado), prazeroso (não: prazeiroso).

aidético, leproso, mongol – são palavras que reforçam preconceitos. Diga pessoa com HIV, hanseníase ou síndrome de Down.

cachórros – nomes com o o fechado no masculino e no feminino mantêm o timbre no plural. É tudo como se tivesse um chapeuzinho: lobo, loba, lobos, lobas; cachorro, cachorra, cachorros, cachorras; raposo, raposa, raposos, raposas; bolso, bolsa, bolsos, bolsas; pombo, pomba, pombos, pombas; tonto, tonta, tontos, tontas; moço, moça, noços, moças.

colocar uma questão – fique com fazer uma observação, fazer uma pergunta.

correr atrás do prejuízo – nós corremos atrás do lucro, mas corremos do prejuízo.

criar novas – só se cria o novo. Basta criar.

de formas que, de maneiras que – locuções conjuntivas se usam no singular: de que forma que, de maneira que.

de menor – use menor de idade ou diga a idade: 4 anos, 12 anos,16 anos.

duas milhões de pessoas – milhar, milhão, bilhão são masculinos: os milhares de crianças, dois milhões de pessoas, muitos bilhões de meninas. 

esteje – a forma é esteja.

estrear novo – só se estreia o novo. Basta estrear.

extorquir alguém – extorquir é arrancar: extorquir dinheiro de alguém, extorquir informações de alguém.

fazem dois anos – fazer, na contagem de tempo, é invariável. Só se conjuga na 3ª pessoa do singular: faz dois anos, fez cinco meses.

golero – pronuncie bem todas as letras da palavra: os ditongos (goleiro, sanfoneiro, pioneiro, plateia, cabeleireiro), o r e o s final das palavras (varrer, sentir, livros, mesas).

gratuíto – gratuito se pronuncia como fortuito e circuito. O ui forma ditongo, sem acento.

há dois anos atrás – baita pleonasmo. indica passado. Atrás também. Fique com um ou outro: Há dois anos terminei o curso. Terminei o curso dois anos atrás.

houveram – no sentido de existir ou ocorrer, o verbo é impessoal. Só se conjuga na 3ª pessoa do singular: Houve distúrbios. Houve três acidentes.

intermedia – intermediar se conjuga como odiar: odeio (intermedeio), odeia (intermedeia), odiamos (intermediamos), odeiam (intermdeiam).

interviu – intervir deriva de vir: ele veio, ele interveio.

irá dizer – a indicação do porvir pode ser feita de duas formas. Uma: o futuro simples (dirá). A outra: o futuro composto (vai dizer). Assim — com o verbo ir no presente. Nunca no futuro.

manter o mesmo – manter só pode ser o mesmo. Se não é o mesmo, escolha outro verbo. Que tal trocar? Ou mudar?

medio – mediar se conjuga como odiar: odeio (medeio), odeia (medeia), odiamos (mediamos), odeiam (medeiam).

meio-dia e meio – a concordância nota 10 é meio-dia e meia (hora).

Nóbel – Nobel é oxítona como Mabel, papel, cruel.

obrigado – ele diz obrigado; ela, obrigada; eles, obrigados; elas, obrigadas. Todos respondem por nada.

o óculos – óculos, como férias e pêsames, é substantivo plural: os óculos, óculos escuros, meus óculos.

panorama geral – todo panorama é geral. Basta panorama.

passeiamos – não presenteie formas dos verbos terminados em -ear com o i: passear, frear, cear & cia. têm um capricho. O nós e o vós dos presentes do indicativo e subjuntivo dispensam o izinho que aparece nas demais pessoas. Dê-lhes crédito: eu passeio, (freio, ceio) ele passeia (freia, ceia), nós passeamos (freamos,ceamos), vós passeais (freais, ceais) eles passeiam (freiam, ceiam).

pequeno detalhe – todo detalhe é pequeno. Basta detalhe.

plano para o futuro – todo plano é para o futuro. Basta plano.

pôrcos – nomes em que o o soa fechado no masculino e aberto no feminino o plural opta pelo salto alto e batom. Segue o feminino: porco, porca, porcos, porcas; porto, porta, portos, portas, torto, torta, tortos, tortas. Exceções? Elas confirmam a regra. É o caso de canhoto e canhota. No masculino, o som é fechado. No feminino, aberto. O masculino plural não segue o feminino. É canhotos, com o o fechado.

possue – não confunda a terminação dos verbos terminados em -uir: a 3ª pessoa do singular do presente do indicativo termina com iele possui, ele contribui, ele retribui, ele diminui, ele atribui (não: possue, contribue & cia. indesejada).

probrema – não troque sons: problema (não: probrema), estupro (não: estrupo), mendigo (não: mendingo), encapuzado (não: encapuçado).

récorde – recorde se pronuncia como concorde. A sílaba tônica é cor.

rúbrica – rubrica é paroxítona como fabrica. A sílaba fortona: bri.

rúim – a palavra é dissílaba – ru-im. A sílaba tônica: im.

se eu caber, se eu deter, se eu pôr, se eu trazer, se eu ver – olho no futuro do subjuntivo: se eu couber, detiver, puser, trouxer, vir.

seje – a forma é seja.

subzídio – pronuncie o s como em subsolo.

vítima fatal – fatal significa que mata. A vítima não mata. Morre. Diga morto.

vou estar mandando & similares – vou mandar.

Ufa!