A CERVEJA, O WHISKY E O MILK-SHAKE DE OVOMALTINE

A cerveja, o whisky e o milk-shake de Ovomaltine

Noite destas, vinha não sei de onde, mas ia para casa, isto é certo. E mais uma vez aquela vontade me provocava. Na verdade era apenas uma daquelas vontades que me acompanham desde sempre. Algumas vão, outras vêm e a maioria das vontades nunca se apaga. Só por saber que, no caminho entre de onde eu vinha e na direção de para onde eu ia, iria passar defronte daquela loja, com seu logotipo dourado de uma única letra, que qualquer criança identifica de longe, a vontade de tomar um milk-shake de Ovomaltine mais uma vez se instalaria.

Tem quem chamaria isso de uma fraqueza. Estas vontades que temos, ou as que eu tenho. Tipo a de comer chocolate, independente das suas centenas de calorias. De tomar um chope assim que sinto o menor sinal de calor. De, à noite, comer pizza com Coca-Cola, mesmo sabendo que depois me dará insônia. Mas que tipo de homem arregado eu seria se tivesse medo de me entregar às minhas fraquezas?

Então decidi que já tinha muitos dias em que eu deixara de tomar meu sorvete batido com Ovomaltine. Sim, na verdade deixo muitas mais vezes de tomar que as vezes em que o desfruto. E assim, sentado sozinho em uma das mesas da lanchonete, sofria aqueles minutos entre a realização do pedido e o seu recebimento. Nesta ânsia da expectativa parece que o tempo não passa e que a fome aumenta. Sempre tenho a impressão que aquela pessoa que chegou depois de mim foi atendida primeiro.

Oba! Chega o hambúrguer! Esqueci de dizer que achei que o milk-shake ficaria meio solitário sem um acompanhamento. Agora, mais calmo, me entrego ao garimpo da imaginação, criando histórias para os companheiros de lanchonete. Aquela mãe cheia de crianças, recém-separada, está no final de semana dos filhos, ainda convidou um sobrinho, o menininho mais comportado. O casalzinho está apaixonado, mastigam as batatinhas no mesmo ritmo. A mesa ao lado é a mais barulhenta, com um grupo de recém pós-adolescentes. Nem me permitem fantasiar. Me entregam uma historinha muito inusitada. Uma das meninas, cabelos coloridos, falava em tom de espanto: Não me julguem! Tive a maior decepção! Assisti o filme do Fred Mercury! Não gostei! Não me julguem! Era sobre a vida de um cantor! Vocês acreditam! Nunca tinha ouvido falar dele! Pensei que o filme era sobre o Fred Mercury Prateado do Pânico na TV! Não me julguem!

Achei engraçado, mas lembrei que quando tinha a idade dela eu pensava que o malte da cerveja e do whisky era o mesmo do Ovomaltine. Não me julguem!

Mas vejam só, não é que o extrato de malte de cevada usado no Ovomaltine é essencialmente o mesmo tipo de ingrediente base que é utilizado na produção da cerveja e do whisky!

Para se obter o malte de cevada, rico em açúcares naturais, o grão de cevada é umedecido e deixado a germinar. Isso ativa enzimas que transformam o amido presente no grão em açúcares simples como a maltose. Depois a germinação é interrompida em um processo de secagem com calor. Os grãos são moídos para libertar o interior do grão onde estão os açúcares e enzimas. Ou seja, o açúcar do malte é natural e provém da transformação do amido através da ação enzimática.

Mas apesar de ser o mesmo ingrediente na origem, o uso e o processamento diferem bastante:

• Na cerveja e no whisky, o malte de cevada, para produzir o álcool, é fermentado e, para o whisky, ainda é destilado.
• No Ovomaltine, o extrato de malte é utilizado como adoçante natural e fonte de energia, sem fermentação alcoólica. Ele tem um sabor adocicado e levemente tostado, contribuindo com o perfil nutritivo e o sabor característico da bebida.

Toma aí quem me julgou! Eu avisei. Não me julguem!