VINHO E PERTENCIMENTO: A RELAÇÃO ENTRE CONSUMO E IDENTIDADE

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Vinho e Pertencimento: A Relação entre Consumo e Identidade

Se tem um fato, que é incontestável na nossa necessidade humana básica, é o desejo de pertencimento a um grupo, como numa torcida de futebol, onde demonstramos como nos conectamos e interagimos com o mundo ao nosso redor.

E o consumo de bebidas é uma boa oportunidade para que esse desejo esteja presente e se manifeste em um compartilhamento de experiências, status e identidade. A turma do vinho está em todo lugar, e quem o consome não tem como escapar desta vontade de pertencer a um grupo, uma vez que o vinho carrega uma forte carga cultural, social e simbólica que transcende a simples bebida.

Aconteceu comigo, estava em um evento de degustação de vinhos em um restaurante. Após o encerramento, a turma de degustadores ainda estava animada e alguém sugeriu passarmos para os coquetéis da casa. Iniciados os pedidos, foram 15 Negronis e o meu, um outro coquetel, que nem me recordo qual foi. Eu gosto de Negroni, mas aquela mesa inteira fazendo o mesmo pedido, do coquetel da moda naquele momento, me deixou incomodado. Me pareceu uma necessidade de mostrarem o quanto estavam antenados e que estavam em sintonia. Era tanto pertencimento a um grupo que pedi licença e fui com minha tacinha para outra mesa.

Mas, voltando ao universo do vinho, o desejo de pertencimento pode se manifestar de diversas formas, a mais desejada talvez seja a participação em comunidades onde todos falam a mesma língua e compartilham seus conhecimentos e experiências. E assim entramos em Clubes de Vinho, grupos de degustação, confrarias e grupos no Whatsapp, onde sentimos uma grande conexão de objetivos comuns.

A experiência de pertencimento a um “círculo” de consumidores mais experientes, pode acontecer em vários momentos. Alguns exemplos: na compra de rótulos que são associados a sofisticação e status. Seguindo as modas do momento. Consumindo vinhos naturais ou orgânicos apenas para se alinhar a um grupo que valoriza esses estilos ou ideais. Participando em todas feiras, degustações ou jantares harmonizados que surjam, onde a experiência não é apenas sobre o vinho, mas também sobre o ambiente social que ele proporciona.

As postagens nas redes sociais de fotos consumindo vinhos exclusivos ou de visitas a vinícolas, reforçam a identidade como um entendedor de vinho e facilitam a entrada em comunidades online com outros experts em vinho.

Como tudo na vida o desejo de pertencimento também tem pontos positivos e negativos. E os positivos são realmente ótimos. A participação em grupos trará uma troca de conhecimentos sobre os diferentes estilos de vinho, técnicas de degustação, história e tradições relacionadas ao vinho. E ainda sobre gastronomia e harmonização. Além, é claro, da possibilidade de encontrar novas amizades em torno desta paixão compartilhada.

Melhor que chamar de pontos negativos, diria que seriam cuidados para não escorregar nas armadilhas do desejo. O desejo de se encaixar em um grupo pode levar a uma perda de autenticidade, com o abandono das suas preferências pessoais para seguir padrões do grupo.

Não pode acontecer é que o desejo de pertencer seja tão forte que se passe a comprar vinhos que nem gosta, só para impressionar, pensando que fingindo assim não será expulso do grupo por aparecer com um vinho proibido nas regras da turma.

Temos também a exclusividade excessiva em alguns grupos, onde o sentimento de exclusão é bem fácil de surgir, são grupos com apenas vinhos nacionais ou nunca com nacionais; exclusivamente vinhos elitistas ou apenas de algum estilo ou outro, onde os nossos desejos do momento não se encaixam e não são atendidos.

Então, no fim das contas, o segredo é simples: pertencer sem perder a autenticidade e respeito às próprias preferências! Nada de entrar em um grupo só para postar uma selfie com um rótulo caríssimo que nem gosta ou fingir que aquele vinho estranho é a melhor coisa do mundo só para não ser julgado. Busque grupos que respeitem suas escolhas pessoais, que escutem suas contribuições e que valorizem a diversidade de gostos, experiências e a conexão que o vinho proporciona.

 

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