Os detalhes sobre a operação de racionamento serão divulgados esta semana
O racionamento de água vai chegar a praticamente todas as residências do Distrito Federal. A Companhia de Saneamento do DF (Caesb) anunciou nesta terça-feira (21/2) que a partir da próxima segunda (27/2) o rodízio vai começar também nas regiões abastecidas pelo sistema Santa Maria/Torto. Os detalhes sobre a operação e os dias disponíveis para cidade serão divulgados na quinta-feira (23/2).
Também não está descartada a hipótese do corte ser ampliado e ocorrer dois dias por semana, tanto para o sistema Santa Maria/Torto quanto para a Barragem do Descoberto. As medidas ainda mais drásticas para contenção de consumo são reflexo de duas resoluções publicadas ontem pela Agência Reguladora de Águas (Adasa) que preveem redução da vazão a ser captada pela Companhia de Saneamento do DF (Caesb) tanto nos sistemas da Barragem do Descoberto quanto no de Santa Maria. Dessa forma, a Caesb terá menos água para oferecer à mesma base de clientes. A empresa tem até o próximo dia 6 para começar a operação com menos líquido.
Pela primeira vez na história, a Adasa reviu a autorização de retirada de água pela Caesb e determinou que as revisões do valor da captação podem ser mensais. Atualmente a Caesb pode retirar 6 mil litros por segundo. Entretanto, desde o início da crise hídrica, a companhia conseguiu diminuir a retirada para 3,8 mil litros/s. Agora, ela será obrigada a captar apenas 3,5 mil litros/s. Dessa forma, a redução chega a 41,6%. No Santa Maria, o decréscimo foi mais crítico – 66% – e a vazão passará a ser de 500 litros/s. Atualmente a autorização é de 1,4 mil litros/s e, desde o início da escassez, 800 litros/s estão sendo retirados.
A redução brusca na vazão média está forçando a Caesb a preparar o rodízio em áreas antes não afetadas, como Plano Piloto, lagos Norte e Sul, Sudoeste, Noroeste, Itapoã e Varjão. A companhia informou, via nota, que os técnicos estão analisando como serão feitos os cortes e que o anúncio de contenção ocorrerá com até três dias de antecedência. Embora impopular, a medida prevê a manutenção de quantidade de água suficiente para o período da seca. Além disso, pode sensibilizar na liberação do recurso pelo governo federal para a construção da captação de água do Lago Paranoá no valor de R$ 50 milhões. O Ministério da Integração Nacional deve dar a resposta do repasse até o início do próximo mês.
Simulações feitas pela Adasa mostram que, mesmo com a redução da captação e com regime normal de chuvas, o Descoberto deve chegar até o fim de maio com valores de 50% a 70% de sua capacidade, quando o normal é 100%. Em Santa Maria, a previsão para o mesmo período é de 50%, uma vez que este reservatório tem mais dificuldades para se recompor. “Ficar sem água é uma medida muito extrema. Vamos poupar agora enquanto está chovendo”, informou Paulo Salles, diretor-presidente da Adasa.
De acordo com a Adasa, não choveu como o esperado, assim como as chuvas ocorreram mais na parte norte do DF, longe dos reservatórios. Salles informou que as resoluções fixaram o prazo de 6 de março porque a situação hídrica é crítica. “Publicamos a resolução de escassez hídrica em novembro, somente em janeiro, a Caesb começou com o rodízio. Agora não dá para esperar”, explica.
Pesquisador em hidrologia, Marcelo Resende, professor e coordenador do curso de Engenharia Ambiental da Universidade Católica de Brasília afirma que a racionamento deveria ter atingido as cidades abastecidas pelo Reservatório de Santa Maria na mesma época que as do Descoberto. O professor ainda acrescenta que para o DF passar pela época da seca sem desabastecimento, será necessário medidas mais extremas no rodízio de água. “O corte no abastecimento vai ter que ser de mais de 24 horas nas cidades abastecidas pelo Descoberto, para dar conta da demanda”, argumenta.
Presidente do Comitê da Bacia do Lago Paranoá e pesquisador da Embrapa Cerrados, Jorge Werneck, acredita que o momento é de redução de demanda até que as obras necessárias sejam feitas e que haja redução da perda de água, atualmente em 35%, sendo 15% de líquido furtado. “Todo mundo sabia que seria um período difícil. Ninguém esperava que fosse tão ruim. Eu tento me colocar no papel do gestor público, se ele tivesse colocado medidas drásticas antes e os reservatórios fossem recompostos, ele também seria criticado. Agora é monitorar os vários cenários e diminuir as perdas”, conclui.