“O dia que aquele Deputado Federal deu aquele voto no julgamento do impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, se o Brasil funcionasse republicanamente, tinha que parar naquele momento, tinha que parar, não podia continuar a sessão depois daquilo. O sujeito, ele tinha que sair de lá preso. Não é possível! Não é possível! A gente tinha que ter interrompido! Eu acho… que esse momento foi um dos momentos mais nefastos da história do Brasil porque eu acho que aquele voto e aquela forma com que o ex-deputado e ex-presidente agiu foi fundamental pra se quebrar qualquer laço de civilidade no processo político brasileiro… Nós precisamos aprender com esses últimos anos, nós temos que interromper performances”.
Essa é a transcrição de um recorte da entrevista que Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, deu ao ICL Notícias. Ele se referia ao à época deputado Jair Bolsonaro, que dedicou seu voto ao já falecido coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe dos centros de tortura e assassinato de quem se opunha à ditadura militar que manteve o nosso País mergulhado em trevas de 1964 a 1985.
Mas o que teria impedido a providência tão devida na sessão de 31 de agosto de 2016 no Congresso Nacional? Os interesses particulares? Os interesses de alguns grupos? A singela ou a equivocada crença de que o parlamentar apenas expressava um sentimento de forma inconveniente, mas inconsequente? A simpatia saudosista nutrida pelo golpe? A combinação de tudo isso? Talvez aquele tenha sido o pontapé inicial para um governo muito mais que desastroso, um governo nefasto, de mau agouro, presságio de que, se não aprendermos com os últimos anos, coisas piores virão.
O discurso que acompanhou o voto foi feito sem escrúpulo e sem medo, como se a tortura fosse a coisa mais natural do mundo, deixando muita gente como aquele personagem de um programa humorístico antigo que ouvia os maiores absurdos sem esboçar reação, só conseguindo dizer “Ah! É, é? Ah! É, é?” – uma crítica que poucos entendiam. E como o tempo não para, perdeu-se a oportunidade de se arrancar o mal pela raiz em flagrante delito, de se gritar “NÃO!” e impedir todos os desdobramentos daquele triste espetáculo que tanto prejudicou o Brasil.
Como é difícil dizer não! Mais ainda na nossa vida particular. Quantas vezes fingimos não ver situações despropositadas por acharmos que não devemos nos meter no que “não nos diz respeito”? Quantas vezes engolimos sapo para não criarmos caso? Quantas vezes nos limitamos ao “Ah! É, é? Ah! É, é?” para não parecermos pessoas desagradáveis? Quantas vezes, em lugar de interromper performances absurdas, nós nos juntamos à claque, numa triste demonstração do que somos ou do que queremos que os outros acreditem que somos?
É a nossa falta de cuidado, de atenção, a nossa omissão, a nossa passividade, a nossa inércia, a nossa covardia, a nossa falta de responsabilidade, a nossa invigilância que abrem espaço para o mal em nossas vidas. E isso pode acontecer de diferentes formas. A citada pelo ministro quase destruiu a nossa Democracia, custou-nos quatro longos anos e ainda representa perigo.
E vemos isso todos os dias quando, por exemplo, um pai age de forma violenta com um filho e a mãe nada faz para “não piorar as coisas”; alguém vê a vizinha maltratar um animal e não denuncia para evitar inimizades no condomínio; você fica sabendo que um parente seu abusa da esposa e nada faz pra não criar um mal-estar na família. Com esse tipo de atitude ou de falta da atitude certa, abrimos caminho para o abuso, o racismo, a homofobia, o machismo, a xenofobia, a transfobia, a misoginia, o ódio generalizado. O mal é ousado e temos o dever de sobrepujá-lo.
Ter um país melhor depende de sermos pessoas melhores. E, à medida que crescemos moralmente, também promovemos uma espécie de efeito doppler, mais ou menos como acontece com aquelas ondas que se formam para todas as direções quando jogamos uma pedra no centro de um lago. Não somos gado! Somos seres humanos, temos o livre-arbítrio e precisamos começar a nos enxergar e a agir em conformidade, à altura da nossa missão como cocriadores do Universo.
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12 thoughts on “O EFEITO DOPPLER”
Perfeito! Infelizmente lembro-me como se fosse hoje daquele fatídico dia em que o inominável votou pelo impeachment da Presidenta Dilma enaltecendo um torturador! Considerações perfeitas, texto perfeito, como sempre!👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
Bethânia Prata via WhatsApp: Oii muito bom seus textos
PE via WhatsApp: Mais um brinde 🥂por esse maravilhoso texto. Vc traz uma passagem da história da Nova República, q é essa registrada na votação do impechament da presidente Dilma, em que, na data, milhões de brasileiros assistiram a um crime dentro do Congresso Nacional.
A fala do Ministro Silvio Almeida corrobora tudo o que vivenciamos nos 4 anos de um governo sem respeito e empatia com as minorias e com os que pensam diferentemente.
O comportamento do Congresso no impechament, em agosto de 2016, feriu de morte a Democracia, visto que o deputado não foi combatido por quem deveria fazê-lo.
Todo o processo de campanha e o resultado das eleições de 2018 desnudaram a sociedade em que vivíamos, ou seja, uma sociedade falida de empatia, repleta de hipocrisia e por muitos o total desconhecimento ou não da vida pregressa de um candidato que saiu pela porta dos fundos do Exército Brasileiro, por inúmeras indisciplinas e por ter planejado explodir a Adutora do Guandu.
Recomendo a leitura do livro O CADETE E O CAPITÃO. A vida de Jair Bolsonaro no quartel, de Luiz Maklouf Carvalho.
Migon via WhatsApp: 👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼 Adoro seus textos, Mara! Obrigado por eles!!
Claudia Pinheiro da Silva via WhatsApp: Boa tarde…sou Bolsonarista , e acredito no meu Presidente. Não concordo com algumas atitudes nas quais naquele dia ele se referiu a Dilma, porém como mulher ela foi um fracasso em todos os sentidos…talvez essa foi a única chance que tivemos na presidência…e, ela simplesmente jogou no lixo…um mundo governado por homens, e enraizado por uma cultura machista…Dilma poderia ter aberto um leque de oportunidades para nós que lutamos tanto pelo empoderamento feminino…era o momento único de mostrar para os sinhozinhos feudais do Congresso Nacional que estávamos ali…e, que não iríamos jamais desistir…infelizmente ela foi um fracasso como Presidente, e na representatividade feminina…creio que um dia estaremos lá sendo representadas com muito louvor…não que o meu relato seja a favor de qualquer ofensa a Dilma Rousseff. Não admito ,e jamais aplaudiria…política e respeito é um assunto que aprendi a separar…
Efeito Doppler é o que acontece quando a fonte sonora e o receptor estão em movimento relativo. As ondas na água não têm nada a ver com efeito Doppler.
Por aí já viu o nível da profissional.
Jáli muito texto imbecil, mas este superou a todos.
Ahazou! É sobre ódio mesmo. Bolsonaro não se elegeu por nenhuma proposta econômica ou social que fizesse sentido, foi apenas ódio. Porte de arma, mamadeira de piroca, preferia que o filho morresse do que fosse gay… é como se fosse preciso alguém monstruoso, cheio de ódio y com desprezo pelos direitos humanos pra derrotar o “governo corrupto do PT”.
Regina Coeli via WhatsApp: Como acrescentar algo ao que você diz Maraci?! você disse tudo. De nossa vida é dos ao derredor nos acovardamos, porque num passado não distante quase apanhamos juntos a vítima diante de policiais e srs dentro do poder atrás de uma mesa, seja ela de baixo nível ou do nível baixo de determinadas autoridades, na maioria das vezes por sermos mulheres que também não conhecíamos algumas leis protetoras, mas que muitos da lei não a cumpriam. Política?! qdo este louco fascista (redundância) reagiu assim a imprensa pouco divulgou. Lembro q fui pesquisar para saber quem era este ex… e na ficha … limpa… enqto a de Haddad mostrava alguns processos que sujava seu nome, processos ainda não julgados … na época nunca tinha ouvido falar daquele louco vestido de salvador da pátria! quanta ignorância!
Fernando via WhatsApp: Olá. O que posso dizer, é que, durante os 6 anos em que a Terra voltou a ser plana (me parece que foi plana durante boa parte da história da humanidade), muitas pessoas que eram meio que referências para mim foram entrando em estado de decomposição bem na minha frente. Pessoas que eu referenciava como exemplos de profissionalismo, de amizade, de ética, de otimismo, de alegria, de bom-humor, de empatia e etc mostraram como a ausência de um mínimo e até mesmo superficial de pensamento crítico faz parte. O mais triste é que várias dessas pessoas eram mulheres /negras /nordestinas, tudo o que a Terra plana menospreza. Hoje, depois de ter minha doença psicossomática sob controle, mantenho as relações com algumas poucas dessas pessoas, mas fico sempre no mínimo e obrigatoriamente superficial, afinal, preciso resguardar o que sobrou da minha saúde mental. Um bom retorno à Terra sempre Redonda a todes.
Gisele Chaves via WhatsApp: Maraci ao ler seu texto tão pontual e sensível à respeito da maneira que o país e as instituições deixaram que se criasse a figura nefasta de Bolsonaro que em pleno Congresso Nacional homenageou um torturador no Correio Brasiliense, me coloquei a pensar… o golpe ocorreu muito antes desse momento… porque para chegar a esse ponto, a figura da presidente já havia sido fragilizada, busquei na memória o momento em que Dilma tinha se tornado alvo dos fascitas, observei que como Ministra do presidente Lula, ela havia sido respeitada como a Ministra que espantou o medo dos apagões, ou que manteve os preços dos combustíveis acessíveis à maioria da população, daí a se tornar uma presidenciável bastava um passo… será? Em um país patriarcal? Eleita! Primeiro mandato, fiel às suas propostas e ao seu modelo de república federativa, bateu de frente com os partidos políticos fazendo a dança de cadeiras dos ministérios, enfraquecida, com apoio apenas do partido, e alguns aliados, mulher convicta de seu papel na sociedade, encarou sua segunda eleição, a oposição se colocou à desacreditar a figura dela como líder do país, colocou em cheque suas competências, mesmo como país com números de confiança de outros países elevados, com pequena taxa de desemprego e com os impostos reduzidos aos mais pobres, além de maior acesso à vacinas, medicamentos, escolas, lazer, esporte e cultura, mesmo assim o PSDB teve a desonratez de questionar a eleição na justiça, querendo fazer o povo acreditar que ela tinha sido corrupta na contagem dos votos (senfo esses eletrônicos e criptografados), a partir daí deu voz a grupos que poderiam falar mal da mulher livremente, manchar a sua reputação à ponto de homenagear seu torturador, em pleno Congresso Nacional, eu vi Eduardo Cunha, Temer, e todo aquele circulozinho dando plateia para o Bolsonaro e suas asneiras. O golpe começou com PSDB, foi reforçado por MDB (PMDB) e caiu nas mãos da direita burra, mercenária e fanática. Temos que estudar muito para que nosso país não caia numa sujeira como essas. DEMOCRACIA SIM E PARA TODOS. GOLPE NÃO! GANHE NO VOTO! Esqueci de dizer que isso está se reverberando até no micro, que as instituições não leram, a sociedade ignora. A constituição foi ignorada, e ela é relativamente tão nova, esses caras já querem rasgar nossa constituição? Precisamos que se levantem Ministros do STF que resguardem nossa missão. E que mate a cobra no ninho. Observe as leis para que golpistas, fascitas, racistas, machistas não se cresçam.