Que Venha 2026

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Cosette Castro

Brasília – Esse período entre as festas de Natal e ano Novo é um tempo entre os tempos.

Depois da correria dos encontros entre grupos de amigas e  colegas do trabalho em dezembro, chega a semana de Natal. E, em geral, as pessoas não param de correr.

É preciso encontrar tempo para buscar lembranças de Natal,  ou  grandes compras, dependendo do orçamento e do tamanho da família, amigas e vizinhas.

E tempo para organização da festa, quando há uma festa. E da ceia, independente da hora que ela ocorra.

Uma ceia amorosa leva em conta os hábitos alimentares e as diversidades e necessidades  de cada corpo. Não é uma tarefa fácil, ainda mais quando a maioria de nós foi educada para fazer “comida normal”. Traduzindo: as vezes com muito sal, com muito açúcar, gordurosas ou com frituras.

Ou seja,  sem levar em conta que na família e entre as pessoas convidadas pode haver pessoas hipertensas, pré- diabéticas ou com problemas de colesterol. Ou que precisam fazer dieta por qualquer outro problema de saúde.

Uma ceia  pensada para o cuidado coletivo da mais trabalho. Ela obriga as pessoas a saírem do mundo que estão acostumadas para olhar os outros e suas particularidades.

O cuidado coletivo inclui pratos para carnívoros. E também para pessoas vegetarianas, como eu, que, em geral, compartilham pratos veganos prazeirosamente.

E lembrar que há pessoas de diferentes idades com restrições alimentares. Como aquelas quem têm problemas com lactose, glúten, restrições a frutos do mar, amendoim, nozes, etc.

Isso significa deixar de lado receitas familiares tradicionais e se abrir ao novo. Por amor. E incluir novos temperos, frutas, legumes, aprender novos sabores, tomando o cuidado de  não incorrer em contaminação cruzada.

Contaminação cruzada é um termo e uma prática que ainda anda longe da maioria dos lares, dos restaurantes, botecos, confeitarias, padarias, hotéis e pousadas brasileiras. Seja por desconhecimento, por falta de legislação ou desinteresse.

A contaminação cruzada pode ocorrer quando a pessoa que está cozinhando usa facas, colheres, panelas, tijelas ou tábuas de corte sem higienizar. Ou usa o mesmo óleo para fritar ou cozinhar  alimentos que as pessoas com restrições não podem comer.

Então não. Não é possível  fritar carne de gado e depois usar o mesmo óleo para fritar carne de soja ou de jaca. Nem fazer lentilha com carne e dizer a uma pessoa vegetariana/vegana para simplesmente deixar a carne de lado. Ou tirar o amendoim ou as nozes de um alimento preparado com eles  e dizer que “não há problema”.

Há problema sim. E pode levar crianças, adolescentes, pessoas adultas ou idosas para o hospital.

Para além da ceia, elaborada em casa ou comprada em quantidade suficiente para não ter trabalho no dia 25, é importante lembrar dos diferentes tipos de presentes para  crianças, adolescentes e adultos. Sem esquecer que crianças não são mini adultos e merecem respeito.

Pessoalmente, adoro o dia 25. É dia de ficar em casa. Falar ao telefone ou pelo whatsapp com amigas e familiares. E dormir.

Dia de conversar em família ao vivo ou por vídeo, dar risada, lembrar de outros Natais. De ler em silêncio. Ver um filme abobrinha ou jogar (qualquer jogo) com outras pessoas. Apenas pelo prazer de estar compartilhando o dia. Faça sol ou faça chuva.

E também é tempo de honrar aquelas pessoas que já se foram recordando suas histórias, manias e aprontes. E se dar ao direito de rir ou chorar por essas lembranças.

No caso da minha família, em cinco anos, morreram quatro pessoas do lado da minha mãe, inclusive ela e um dos seus dois irmãos. Ambos com Alzheimer. E do lado do meu pai, que foi o Papai Noel oficial até o ano da sua morte, em 1998, faleceram três pessoas.

Ao todo foram sete familiares. Nesse meio tempo, ainda houve uma pandemia mundial e uma enchente avassaladora no Rio Grande do Sul, local onde moram a maioria dos meus familiares. Apesar das perdas, escolhemos seguir comemorando a vida, porque a vida, como diria Gonzaguinha, “é bonita, é bonita e é bonita”. (Lembre a letra da música “O que é, O que é” aqui.)

Até o ano novo é tempo de mais um período de balanço. Pessoal e também do Coletivo Filhas da Mãe. Tempo de silêncio e de música. De contemplação e de abraço.

De estar só e também acompanhada, porque as duas situações são possíveis e necessárias para pensar no ano que dá seus últimos suspiros. E também para sonhar e planejar o novo ano que se anuncia.

Que venha 2026!

Cosette Castro

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Cosette Castro

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