Um Dia Com Afeto Vale a Pena

Publicado em Envelhecimento

Cosette Castro

Brasília – Em uma sociedade que nega e esconde a morte, é preciso coragem para viver e envelhecer com dignidade. É o que conta o livro “A A-Ventura de Envelhecer”, de Vicente Faleiros, recentemente lançado.

Para o autor, é  preciso coragem para enfrentar os diferentes desafios cotidianos, individuais e coletivos, assim como a pulsão de morte, que pode abater as pessoas. A pulsão de morte, termo criado pelo psicanalista Sigmund Freud pode atravessar qualquer pessoa nos momentos difíceis da sua trajetória pessoal.

O livro de Vicente Faleiros, professor emérito da UnB, mostra também a força da pulsão de vida, outro conceito freudiano que trata do impulso pela vida, pela sobrevivência e pelo prazer. E faz isso sem negar a finitude. Ele lembra que a potência da consciência sobre si e sobre o mundo torna o envelhecimento uma oportunidade de elaborar e reelaborar o passado.

Faleiros, que escreveu o livro há um ano, aos 82 anos, mostra erudição, sem ser enfadonho, e brinda leitoras e leitores com poesias, suas ou de terceiros. Escreve sobre os paradoxos do envelhecimento, sobre os diferentes tipos de velhices existentes no Brasil. Sobre a discriminação contra pessoas idosas e sobre a falta de justiça social, que tem combatido desde a juventude.

Em 2023 ele recebeu o Prêmio Zilda Arns que agracia pessoas e instituições que atuam em defesa dos direitos humanos das pessoas idosas. Este foi apenas um da longa lista de homenagens e reconhecimento deste acadêmico que busca compreender a própria velhice.  Ao mesmo tempo, se  reconhece como uma pessoa privilegiada (homem, branco, cis, heterossexual, de classe média, com grau universitário). Um militante que nunca deixou de defender os direitos humanos, dentro ou fora do Brasil.

O autor abre a alma, revela dores e medos contando em alto e bom tom sobre os desafios que enfrentou durante a ditadura, durante os anos de exílio (Holanda e Canadá) e a volta do Brasil, assim como sobre sua trajetória acadêmica. A história pessoal está diretamente relacionada com a vida política do país de ontem e de hoje.

Há muita amorosidade e afeto em cada capítulo. Há uma pertinente crítica ao capitalismo, assim como a análise sobre as diferentes maneiras de enfrentar as desigualdades sociais e o empobrecimento das pessoas idosas. Atualmente, segundo o IBGE, há 35 milhões de pessoas com 60 anos ou mais no Brasil e outras 55 milhões de pessoas na faixa entre 50 e 59 anos, em processo de envelhecimento.

Além de ser Assistente Social, formado em Direito e Gerontólogo, Faleiros também tem leitura aprofundada em Psicanálise. Aliás, a questão do envelhecimento e da finitude gerou um posfácio que não estava planejado no começo do livro. E que vale a pena ser lido.

Faleiros se contrapõe a ideia de que velhice é declínio. Para o autor, velhice pode ser vista como desequilíbrio. E quem de nós, em algum momento, independente da geração, não vive ou viveu na corda bamba social, financeira, emocional ou física? Em um constante equilibrar de pratos para  (tentar) dar conta de tudo? Com isso, oferece um novo olhar sobre a velhice.

Os pequenos e grandes lutos ganham espaço no livro “A A-Ventura de Envelhecer”, inclusive lutos como o término de um livro, o texto de um Blog semanal ou um projeto de trabalho que não chegou a vingar ou que foi finalizado.

Reconhecer os lutos faz parte do processo de crescimento pessoal e de resiliência frente às violências cotidianas, individuais ou coletivas. E, pontencialmente, podem ajudar a lidar com lutos maiores. Entre eles, a  perda da referência de mundo quando morre um familiar ou uma amiga querida.

“Um Dia Com Afeto Vale a Pena”, frase com que termina o discurso do prêmio Zilda Arns, também poderia ser o nome do livro editado pela Hucitec. Os afetos, as redes de apoio e solidariedade apoiam e combatem a competitividade de um mundo que cobra produtividade diária, mas descarta as pessoas 60+, assim como a indústria descarta geladeiras, carros e celulares.

Frente a essa Sociedade da Violência, Vicente Faleiros ressalta a importância de ter projetos e propósito. Eles podem ganhar corpo em uma viagem, no encontro semanal com amigos, no ativismo ou em uma atividade física. E ressalta a essencialidade dos afetos e dos encontros intergeracionais. Tudo isso para vencer o medo e viver com amorosidade o próprio envelhecimento e finitude.

PS: Domingo, 25/05, vamos caminhar no Eixão Norte. Encontro às 8h45, em frente ao Marco Zero. Depois da caminhada e do lanche compartilhado, às 10h, vamos participar das terapias integrativas gratuitas do parceiro Instituto Tocar (quadra 206, no gramado do Eixão Norte).

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