Cosette Castro & Victor Jimenez
Brasília – Hoje é o último dia do Acampamento Terra Livre (ATL), o maior encontro de povos indígenas do Brasil que está acontecendo na Capital. Federal. Ainda da tempo de conhecer um pouco mais da cultura e diversidade de etnias, cerca de 305, que representam nossos povos originários e suas 274 línguas.
O dia 11/04 é também a data de conscientização sobre o Parkinson, doença que atinge 1% da população mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 200 mil dessas pessoas vivem no Brasil.
O Parkinson é uma doença neurológica ainda sem cura que causa tremores, lentidão de movimentos, rigidez muscular, desequilíbrio, além de alterações na fala e na escrita. Há outros sintomas, como a diminuição do olfato, distúrbios do sono, alteração do ritmo intestinal e depressão.
No Brasil, os pacientes podem obter medicação gratuitamente através do Programa de Medicamentos Excepcionais do Sistema Único de Saúde (SUS).
Para escrever sobre o tema, o convidado de hoje é o advogado Victor Jimenez, equatoriano que adotou o Brasil há 50 anos. Diagnosticado com Parkinson desde 2009, Victor vem enfrentando diariamente desafios.
Em 2016, ele criou um grupo online de apoio aos pacientes: Viver Ativo com Parkinson, com canal no YouTube. Esses espaços de produção de conteúdos online abriram caminho para os canais Terapias Alternativas.Parkinson (conheça aqui), com 4,6 mil inscritos e o canal Praça da Harmonia Universal ((veja aqui), com mais de 12 mil inscritos.
Victor Jimenez – “Lembro do dia em que o médico me comunicou, sem nenhuma cerimonia: ‘ O senhor está com Parkinson, mas não vai morrer dessa doença’. Foi como uma sentença de morte. O Parkinson é uma doença degenerativa incurável, mas que mantém a consciência dos pacientes. A medicação, a Prolopa e outros medicamentos afins são apenas uma medida paliativa para suprir a falta da dopamina.
Após receber a notícia, minha cabeça começou a doer, fechou a boca do estômago e comecei a respirar com mais força.
Não perguntei mais nada. Saí do consultório no hospital Santa Lúcia e fui até a Legião da Boa Vontade (LBV), na Asa Sul. Os pensamentos eram confusos. O que fazer? E meus sonhos? O que dizer para a família? E no o trabalho?
Depois de umas duas horas saí do templo, entrei no carro e dirigi sem rumo. Não tinha vontade de voltar pra casa. Comecei a dirigir terminando na Torre de Televisão. O elevador estava funcionando e entrei. Lá encima olhei para o lado da Esplanada dos Ministérios. Vi a Rodoviária, o Congresso Nacional.
Olhei para o movimento dos carros, para as calçadas. As pessoas transitavam de um lado para outro. De pronto veio a lembrança que dessa torre muitas pessoas tinham se suicidado. Senti um frio no estômago e olhei mais uma vez para baixo.
Quando voltei a ver a quantidade de vias e calçadas que devem levar a algum lugar, pensei que também deveria haver alguma via para mim. Entrei no no elevador e desci, apagando os pensamentos negativos. Segui caminhando sem rumo pelas calçadas do Eixo Munumental. Era noite quando voltei para casa.
Comuniquei a família tentando não fazer alarme. Contei que o médico prescreveu uns medicamentos para ver se eles melhorariam a rigidez do meu corpo. E que era mesmo Parkinson.
A melhora aconteceu. O médico fez ajuste da medicação e passei a levar a vida na ‘normalidade’. Continuei trabalhando, mas o conflito dentro de mim ainda fervilhava. Passei a ler mais sobre o assunto. Busquei especialistas na UnB. E participei de vários projetos aplicáveis a pessoas idosas e pessoas com Parkinson.
Para repetir as atividades sugeridas em casa, comecei a gravar e editar vídeos. A minha filha Amanda já publicava no YouTube e me incentivou a publicar vídeos. Em pouco tempo o canal Terapias Alternativas no Parkinson passou a ser acompanhado por muitas pessoas.
Na UnB tive o contato com o Tai Chi Chuan. Foi assim que conheci o mestre Woo, da Praça da Harmonia Universal, em Brasília. Lá passei também a gravar as atividades de Tai Chi e surgiu o canal no YouTube Praça da Harmonia Universal. Essas atividades me fizeram muito bem. No Tai Chi tive o contato com a medicina chinesa. Ela abriu portas que me permitem viver com qualidade de vida”.
Há cerca de um ano Victor Jimenez participou do Projeto Filhas da Mãe Contam Histórias, com o relato acima. Hoje ele considera que “o Parkinson não é o fim. É o começo de uma nova vida ressignificada que permite olhar e decobrir os motivos da minha existência neste planeta azul.”
Não é fácil viver com uma doença neurodegenerativa progressiva, independente qual seja. Todo dia é um desafio. Mas também é um aprendizado, com a oportunidade de viver um dia de cada vez.

