O Dinheiro Público e o Corte de Gastos Sociais

Publicado em orçamento da União

Cosette Castro & Vicente Faleiros

Brasília – A disputa pelo dinheiro público do orçamento da União e a  redução de gastos públicos em um país em processo de envelhecimento e de precarização do mundo do trabalho tem se mostrado uma luta de queda de braços entre os mais fortes e a população fragilizada no país.

Para escrever sobre o tema, convidamos  Vicente Faleiros, professor emérito da UnB que, em 2023, recebeu o prêmio Zilda Arns de Direitos Humanos. Aos 83 anos, Faleiros tem pesquisas e livros sobre  políticas sociais, saúde pública, saúde mental, violência e velhice/gerontologia, entre outros temas.

Vicente Faleiros – “A disputa pelo dinheiro público do orçamento da União se escancara entre os que defendem atender os mais pobres e entre aqueles que visam favorecer os mais ricos, estes pressionando por corte de gastos, inclusive com lobbies, especulações e divulgação de boatos. Defendem o capital financeiro e aumento de juros em nome do controle da inflação.

Ao mesmo tempo, há movimentos, grupos e pessoas que priorizam investimentos em saúde e educação, bem como uma política de aposentadorias dignas, assistência social e garantia de renda  como direitos, visando amenizar as profundas desigualdades existentes no Brasil. O Presidente Lula tem defendido melhoria no salário-mínimo, o Bolsa Família, o acesso à educação e à saúde.

Por outro lado, o Banco Central, com aval do capital financeiro eleva os juros, enquanto o Congresso Nacional promove emendas ao orçamento a seu arbítrio para favorecer  redutos eleitoreiros. Ou seja, ha clientelismo com neoliberalismo, aliança entre favorecimento de elites dominantes com mercado financeiro.

São calamitosos os privilégios tributários no Brasil. Por exemplo a isenção de tributação sobre lucros e dividendos distribuídos por pessoa jurídical, leia-se empresas, provoca um rombo de 58,9 bilhões no orçamento. O pagamento de juros e amortizações da dívida alcança 46,30% do orçamento federal. Enquanto isso, a assistência social só absorve 4,77%, 10% do que se gasta com juros. A Educação ocupa 2,77% do Orçamento, a saúde 3,37%, e Previdência Social 20,7%, segundo dados de 2022.

O pagamento de juros favorece quem nada produz, isto é o capital financeiro. Por outro lado, o dinheiro aplicado em saúde, educação desenvolve o país, a vida e a cultura. A Previdência Social é contributiva, com os trabalhadores pagando por ela, até mesmo com desconto no salário dos aposentados.

O dinheiro recebido pelo Benefício de Prestação Continuada (BPC), pelas aposentadorias do INSS, pelo Bolsa Família é sangue na veia da economia, fazendo com que os pequenos municípios e diversas comunidades e quebradas girem sua economia. Cortá-los é cortar a vida na carne e no cerne da sobrevivência não só das famílias, mas dos municípios e demais comunidades.

As aposentadorias do INSS asseguram a sobrevivência de mais de 23 milhões de pessoas. O Bolsa Família, com benefícios adicionais para crianças , adolescentes, gestantes e nutrizes (mulheres que amamentam no seio) atende em torno de 20 milhões de famílias, isto é, mais de 54milhões de pessoas  alcançando todos os municípios brasileiros.

A maioria de pessoas idosas aposentadas e a totalidade dos que recebem o Bolsa Família são os mais pobres. Quem ganha com juros e especulação são os mais ricos que visam enriquecer ainda mais com o dinheiro público. O Brasil precisa escolher a vida e não a especulação. Já a sociedade precisa promover uma convivência justa entre classes e coletivos, assegurando direitos.

Cortar gastos sociais é perder direitos e negar a vida.”

No Coletivo Filhas da Mãe acreditamos que o  dinheiro aplicado em saúde, educação e cultura é investimento, não um gasto. Um investimento de curto, médio e longo prazo que desenvolve o país e pode ajudar a promover a qualidade de vida da população reduzindo a desigualdade social.

2 thoughts on “O Dinheiro Público e o Corte de Gastos Sociais

    1. Olá Adeli,

      Conheço seu longo trabalho por uma sociedade com igualdade social. Que bom que no RS tem um coletivo que atua pelo fim do idadismo. Aqui, além do fim do idadismo, também atuamos pelo fim das violências contra pessoas idosas, inclusive a sexual. Abraço,
      Cosette

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